Opinião

DONA DILMA, QUER QUE DESENHE?

Confira o artigo do jornalista Ernesto Zanon sobre os protestos pacíficos realizados nesta segunda-feira em todo o Brasil

Depois dos 250 mil nas ruas nesta segunda-feira e a
enxurrada de posts nas redes sociais demonstrando que o Brasil acordou em
relação aos desmandos do poder, assisti a excelentíssima presidente (com E no
final sim) da República, Dilma Rousseff, rasgando a seda para os movimentos
populares. Ela afirmou, entre outras pérolas, que acordou feliz por perceber
que a população foi para as ruas pedindo por mudanças. E destacou uma faixa,
que apareceu bastante na mídia: “Desculpe-nos o transtorno. Estamos mudando o
país”.

Em seguida, Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, que no
passado era o leva-e-traz do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), assassinado
em situação nunca esclarecida, alegou que não estava entendendo direito o que
está acontecendo com o país. Ressaltou a liberdade das manifestações que deve
ser em relação a insatisfação do povo com uma série de fatores.

Pois é. Li vários artigos de jornalistas e cientistas
políticos em relação aos fatos deste outono brasileiro. Até agora, é verdade,
ninguém conseguiu traduzir exatamente o que significam esses movimentos. Mas em
todos fica claro que existe um grande inconformismo com a classe política e com
o poder instalado no Brasil. Daí, para alguém que vive esse país 24 horas por
dia, não é difícil intuir sobre contra quem e o que o brasileiro se levanta.

Se os vinte centavos de aumento em São Paulo incomodaram,
mesmo  o reajuste ficando abaixo da inflação, bem diferente de Guarulhos,
onde o prefeito do PT aumentou acima do índice acumulado no período seis meses
atrás, é porque o governo federal perdeu o controle da política econômica. Se
há aumento é porque há inflação. E o responsável é exatamente a presidente, que
não entende o que acontece, e seu antecessor no cargo, já que não conseguem
manter o crescimento econômico e abandonaram investimentos em infraestrutura,
em saúde, em educação.

O sucesso das manifestações de segunda-feira, por todo o
país, se revelou já no sábado, quando 70 mil torcedores se levantaram contra a
presidente, com uma sonora vaia, durante a abertura da Copa das Confederações,
em um estádio que custou três vezes mais do que o previsto. Em vez de R$ 500
milhões, o Mané Garricha, em Brasília, saiu a R$ 1,5 bilhão de dinheiro público para uma obra que tende a
ficar abandonada após a Copa do Mundo. O mesmo se repete nos nove estádios,
verdadeiros elefantes brancos, que estão sendo erguidos a peso de ouro para
receber o maior evento mundial do futebol.

Tudo isso porque o ex-presidente Lula, o padrinho de Dilma,
garantiu – quando defendeu com unhas e dentes a vinda da Copa para o Brasil – que
nenhum centavo de dinheiro público seria gasto em estádios. Mais uma vez mentiu. Se toda essa verba
fosse canalizada para atender as verdadeiras necessidades da população, o caos
em que se vive neste país, longe das propagandas oficiais, seria bem menor.

Cara presidente, se está difícil entender o que significa
essa transformação do país, vou pedir para alguém desenhar para a senhora, me
desculpe!

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