Economia

Em Iperó, pacientes sem médico e crianças sem escola

Com o corte da cesariana inflamado e o filho de 22 dias no colo, a doméstica Lourdes Cristina dos Santos, de 26 anos, estava havia uma hora esperando atendimento em pé, à frente da unidade de saúde do bairro George Oetterer, em Iperó, interior de São Paulo. O menino estava com peito chiando. A sala de espera, lotada de pacientes, não tinha lugar para sentar e, como muitos outros, ela esperava a vez do lado de fora. “É um médico só para atender toda essa gente.”

Lourdes já havia procurado a mesma unidade de pronto-atendimento no dia anterior, mas foi para casa porque não tinha médico. A menos de um quilômetro, uma Unidade Básica de Saúde, que deveria estar pronta desde outubro de 2015, teve as obras paralisadas por atraso nas verbas e só foi retomada em março deste ano. O novo posto, que desafogaria o atendimento no bairro, só deve ficar pronto em julho.

Com a queda de arrecadação, o município foi obrigado a cortar horas extras, extinguir cargos em comissão, rever contratos, reduzir investimentos e limitar serviços, como o transporte terceirizado de pacientes. O projeto do bulevar que embelezaria a região central foi adiado. Como os repasse do Estado também minguaram, a construção da Escola Estadual de George Oetterer atrasou e faltam vagas. As medidas de contenção ainda estão em vigor: neste ano não teve carnaval e a festa de aniversário da cidade foi reduzida.

A população sentiu o impacto. A dona de casa Priscila Gomes, de 25 anos, moradora do bairro Vileta, descobriu que a filha Adriele, de 4 anos, tem hérnia e precisa fazer cirurgia, mas há duas semanas vai ao posto e não consegue a consulta. “Falta médico e a fila é muito grande”, diz. “Eles sempre mandam voltar na semana seguinte.” Ela conta que o transporte escolar da menina também foi cortado. “Levo a Adriele a pé para a escola, que fica longe. Quando chove, é um drama.”

Bairros vizinhos de George Oetterer, como o Vileta e o Jardim das Monções, formaram-se com a ocupação de áreas devolutas ou particulares e o processo de regularização, esperado há mais de dez anos, está parado. A maioria das casas não tem coleta de esgoto e muitas ruas são de terra. Nas asfaltadas, sobram buracos. “Tem poste, mas não tem luz. À noite, a gente tem de iluminar com o celular para não cair nos buracos”, conta a aposentada Maria Hilda da Conceição, de 59 anos, moradora da rua Paraná.

O município informou que tem convênio com o Estado para asfaltamento do bairro, mas houve atraso nos repasses. A crise também adiou a abertura de uma grande empresa já instalada e elevou o desemprego. Recentemente, a associação de moradores da cidade fez mutirão para colocar lajotas no bairro Bela Vista. Em George Oetterer, a prefeitura cedeu as tintas e os moradores pintaram a escola.

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