Estadão

Em sessão volátil, Ibovespa sobe 0,60%, aos 101,7 mil, com foco doméstico

A princípio à distância e à medida que a tarde avançava, em direção contrária ao sinal emitido pelas bolsas de fora, o Ibovespa, colado nesta quarta-feira ao noticiário doméstico, acompanhou de perto a indicação da curva de juros neste meio de semana. Assim, perdeu força e virou ao negativo ainda no começo da tarde, quando os DIs iniciavam movimento de renovação de máximas da sessão desta quarta-feira. Na mínima, recuou aos 100.247,89 pontos, mas com a desaceleração da alta na curva de juros, mudou de sinal e foi às máximas da sessão próximo ao fechamento, bem perto de retomar os 102 mil pontos também no encerramento – o que obteve no intradia.

Perto do fim, o Ibovespa chegou a mostrar alta de 1,02%, aos 102.213,27 pontos. Fechou um pouco mais acomodado, aos 101.792,52, em alta de 0,60%, emendando hoje o quarto dia de recuperação, a mais longa série positiva do índice desde os seis ganhos entre 4 e 11 de janeiro, após ter aberto o ano com dois tombos.

Até o começo da tarde, em alta moderada que o fazia conservar a linha dos 101 mil pontos, recuperada e mantida no fechamento de ontem, a referência da B3, favorecida pelo apetite por risco que moveu os índices de Nova York (Dow Jones +1,00%, S&P 500 +1,42%, Nasdaq +1,79%) e da Europa (Londres +1,07%, Frankfurt +1,23%, Paris +1,39%), a referência da B3 parecia endereçada à sua mais longa série positiva desde o começo de janeiro, o que ao final se confirmou após muita volatilidade à tarde.

O Ibovespa saiu hoje de abertura aos 101.185,19 pontos. O giro se manteve moderado nesta quarta-feira, mas um pouco melhor, a R$ 23,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 3,00%, com perda no mês a 2,99% – no ano, o índice cai 7,24%.

"O mercado de juros ficou bastante nervoso ao longo do dia, com a expectativa para o anúncio do arcabouço fiscal, e também com a confirmação à tarde, pelo Confaz, de aumento da alíquota de ICMS a partir de julho para os combustíveis, o que terá impacto não desprezível para a gasolina nas bombas, equivalente a 10% do preço, com a mudança da alíquota, e meio ponto a mais para o IPCA. Boa parte do mercado não esperava um impacto desse, o que resultou em pressão nos juros, com elevação das projeções para o IPCA", diz Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

Após passar boa parte da tarde em renovação de mínimas da sessão, acompanhando a pressão vista na curva de juros, o Ibovespa se reaproximou aos poucos e ao fim retomou o sinal positivo na sessão, com o suporte proporcionado desde mais cedo por Vale (ON +1,44%), favorecida pela alta do minério de ferro na China (+1,54% em Dalian), e também por Petrobras, que oscilou para o positivo rumo ao fim da sessão (ON +1,06%, PN +1,31%), mesmo com o sinal negativo do petróleo nesta quarta-feira.

O Conselho de Administração da Petrobras decidiu, em reunião hoje, que as vendas de ativos com contratos já assinados à espera do fechamento serão respeitadas e mantidas, apurou o Broadcast, em notícia confirmada depois pela própria estatal. A decisão vai em linha com o que o presidente da empresa, Jean Paul Prates, havia dito na semana passada, em evento no Rio.

Mais cedo, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enviou ofícios para a diretoria executiva da Petrobras e para o Conselho de Administração solicitando que todas as vendas de ativos, inclusive as assinadas, fossem reavaliadas pela nova diretoria e o assunto devolvido ao Conselho para apreciação – o que contribuiu para alguma volatilidade nos papéis da empresa ao longo da sessão.

Na ponta do Ibovespa, Hapvida (+4,94%), São Martinho (+4,07%) e Raízen (+3,77%). No canto oposto, Qualicorp (-5,97%), Lojas Renner (-4,87%) e Via (-4,12%). Os grandes bancos, que operavam em baixa mais cedo, mudaram de sinal e encerraram o dia na maioria em alta, com destaque para BB (ON +1,16%) e Bradesco (ON +1,13%).

"A Bolsa começou a sessão de forma positiva, com a expectativa de que o arcabouço fiscal pudesse ser anunciado ainda hoje. Com o passar do dia, o mercado foi se deteriorando, especialmente no período da tarde, com notícia negativa para a taxa de juros, a decisão do Confaz sobre a alíquota de combustíveis, com efeito para a inflação do ano. O DI abriu, afetando em especial ações de setores como os de construção civil e consumo discricionário, mais dependentes de crédito para vender seus produtos", diz Luiz Adriano Martinez, sócio e gestor de renda variável da Kilima Asset.

Assim, com foco ainda no arcabouço fiscal enquanto os mercados de fora passam por descompressão após os recentes temores em torno de crise bancária, os ativos brasileiros reagiram mal à notícia de que o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) estabeleceu cobrança única do ICMS em operações envolvendo combustíveis. O Confaz definiu que a cobrança sobre gasolina e etanol passará a ser "ad rem", com alíquota de R$ 1,4527 por litro com efeito a partir de 1º de julho.

A Warren Rena, a BlueLine e a Garde Asset calcularam que a nova alíquota de ICMS adiciona 0,50 ponto porcentual ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023. A Necton elevou de 5,85% a 6,36% a projeção para o indicador este ano, reporta Mateus Fagundes, jornalista do <i>Broadcast</i>.

Adicionalmente, os juros aceleraram alta com o relato de que, de fato, o novo arcabouço fiscal, ainda não anunciado oficialmente, estabelecerá que as despesas evoluirão, no mínimo, segundo o crescimento do PIB per capita, notícia que havia sido antecipada pelo Estadão/Broadcast, ontem.

"Há muita instabilidade ainda, na Bolsa como no câmbio e nos juros futuros, por conta também da expectativa para o arcabouço fiscal. É o principal driver no momento e se vier a contento pode levar o mercado a destravar valor, em modo risk on com apetite por risco, quem sabe, nos próximos dias", diz Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos. Ele reconhece, contudo, que a formatação final da proposta a ser apresentada permanece como algo "muito incerto", ao mencionar a contradição, dentro do governo, entre o compromisso de zerar o déficit a partir do próximo ano e a inclinação por ampliar gastos públicos.

Em outro desdobramento do dia, negativo para a percepção sobre a situação do crédito no País, ao menos quatro fundos de investimento imobiliário publicaram comunicados nesta quarta-feira, para informar a ausência de recebimento dos valores devidos pelo investimento em certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) – um sinal de que crise derivada dos juros altos pode estar se espalhando por diferentes setores produtivos, reporta Circe Bonatelli, jornalista do <b>Broadcast</b>.

A Selic a 13,75% ao ano trouxe uma nova voz do governo para a discussão sobre o nível de juros no país, no dia em que o Caged de fevereiro, com geração de 241 mil vagas de trabalho, embora acima da mediana das estimativas para o mês (156 mil), veio, conforme esperado, bem abaixo do mesmo mês do ano passado (353 mil), confirmando tendência de desaceleração, como observam instituições como o Santander. "Esperamos que a criação de empregos fique em níveis baixos à frente, especialmente considerando os efeitos de uma política monetária mais apertada", aponta em nota Gabriel Couto, economista do Santander.

Hoje, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, comentou que a "insanidade monetária" do Banco Central é o grande problema do País. "Se o Banco Central colaborar, a economia vai voar", afirmou Marinho a jornalistas, após divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

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