Economia

Empresas correm contra o relógio para fugir da crise

Líder na produção de materiais para escritórios e escolares, a Polibras, com duas fábricas no País, tem seus produtos distribuídos nas principais redes varejistas, como a Kalunga. Com uma equipe comercial agressiva no mercado, a empresa fazia questão de cobrir qualquer oferta para não perder uma concorrência. Foi aí que ela derrapou e se viu obrigada a buscar ajuda.

Quando Luís Paiva, sócio da Corporate Consulting, foi contratado, em novembro do ano passado, a empresa estava praticamente paralisada, devendo salários e atolada em dívidas. “Um mês depois, com o diagnóstico nas mãos, começamos a renegociar com fornecedores, bancos e iniciamos um trabalho pesado de redução de custos”, conta o executivo, especializado em reestruturação de empresas em crise.

Com faturamento de R$ 46,5 milhões em 2013, a companhia tinha dívidas de R$ 65 milhões, sendo 60% correspondentes a passivos fiscais, 33% com bancos e o restante com fornecedores, sobretudo com a petroquímica Braskem, fornecedora de matéria-prima.

A trajetória da mineira Polibras não difere muito da de outras companhias que atuam em diversos setores. “Entre 2010 e 2011, os empresários estavam animados com a economia brasileira, que passou ao largo da crise de 2008. Muitas empresas tomaram dívida para expansão, investimento de capacidade e tecnologia. Em 2012, o cenário macroeconômico começou a mudar e, desde o ano passado, a crise levou muitas companhias a tentar renegociar dívidas”, diz Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, que tem em sua carteira empresas de médio e grande portes já na UTI. “O que se vê neste ano é que várias empresas, de diversos setores, estão passando por dificuldades.”

Dados recentes da Serasa Experian já refletem esse cenário: os pedidos de recuperação judicial de empresas subiram 20% em setembro, na comparação com 2013, assim como os pedidos de falência, que tiveram alta de 16% nesse período.

A desaceleração da economia – com crédito mais restrito, demanda em baixa e custos altos – somada, muitas vezes, à gestão desastrosa de empresas, tem colocado várias companhias em rota de crise. Ainda são poucas as empresas, como a mineira Polibras, que buscam consultoria com antecedência para promover uma ampla reestruturação e evitar uma crise ainda mais aguda, que culmine em uma recuperação judicial.

Paiva tem em mãos outras duas companhias que, antevendo uma turbulência maior, pediram socorro antes. Uma delas é a Perfumes Dana, de São Paulo, conhecida por comercializar as colônias masculinas Brut. “A empresa foi abatida pela consolidação do setor, com concorrentes mais agressivos e estava endividada. Para se manter ativa, teve de reduzir preços, o que aumentou seus custos. Mas do início do ano para cá, ela já dá sinais de fôlego.”

No caso da fabricante de bicicletas Free Action, que licencia a marca Mormaii, a situação foi parecida. “Para entrar pesado no varejo, a empresa reduziu preço. Se você não tem marca forte, vira commodity”, disse o consultor. Nesta empresa desde março, a equipe de Paiva também renegociou as dívidas com os bancos (um total de R$ 30 milhões) e conseguiu injetar capital de giro para que a Free Action começasse a importar matéria-prima para manter a produção.

Cenário ruim

“O momento atual está muito propício para consultorias que fazem reestruturação financeira”, afirma Gomes, da Alvarez & Marsal. Os segmentos de açúcar e álcool, de óleo e gás, têxtil, autopeças, varejo, equipamentos e metalurgia estão entre os mais afetados, segundo especialistas ouvidos pelo Estado. Só no setor sucroalcooleiro, por exemplo, há cerca de 70 usinas em recuperação judicial – reflexo de uma crise que já dura pelo menos cinco anos.

Para evitar o mesmo caminho de suas concorrentes, a indiana Shree Renuka, que apostou fortemente na expansão do setor sucroalcooleiro nos anos 2000, teve de recorrer à consultoria Galeazzi & Associados. O endividamento da empresa, segundo fontes de mercado, gira em torno de R$ 1,4 bilhão. Luiz Galeazzi, sócio da consultoria, não fala sobre clientes.

“Cerca de 80% das empresas que assessoramos estão longe da recuperação judicial. Mas reconhecemos que nos últimos meses, poucas são as empresas que buscam consultoria para melhorar a performance”, disse Galeazzi. A equipe dele foi responsável pela transformação da fabricante de tecidos Tavex, do grupo Camargo Corrêa, que faturou ano passado R$ 1,1 bilhão e tem fábricas no Brasil, México e no Marrocos. O trabalho, concluído neste ano, reposicionou a marca Santista, que passou a ter uma equipe própria. A companhia também desenvolve tecidos usados por marcas como Morena Rosa, Zara e Diesel. A divisão dos times foi a forma encontrada pela empresa para garantir que os executivos se concentrassem com maior empenho em cada negócio.

Preconceito

A recuperação judicial, embora seja vista com preconceito no mercado brasileiro, pode ser uma aliada no processo de reestruturação, uma vez que a ajuda as empresas a se reorganizarem. Com três fábricas no País e sofrendo forte concorrência dos produtos chineses, a empresa têxtil Teka, de Santa Catarina, entrou com pedido de recuperação judicial em 2012 e teve aprovação de seu plano no ano passado. “O faturamento mensal, que costumava ser superior a R$ 10 milhões, chegou a R$ 4 milhões em maio”, disse Paiva, da Corporate Consulting, que assumiu o caso no início do ano, no lugar de outra consultoria. A empresa, cuja dívida é de quase R$ 500 milhões, além de R$ 1 bilhão em dívidas fiscais, tem 2 mil empregados, segundo Paiva. “A Teka entrou no Refis e estamos questionando o total da dívida. Em novembro, vamos pagar um acordo de encargos trabalhistas no valor de R$ 7 milhões. A perspectiva é de recuperação”, disse.

A depender do atual cenário macroeconômico, afirmam especialistas, muitas empresas deverão enfrentar pela frente tempos bicudos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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