Responsáveis por abrigar a realização das mais diversas atividades, os equipamentos de esportes estão entre os elementos essenciais para a difusão do esporte. No entanto, esta premissa não é a mais condizente em Guarulhos, que os mantém em situação crítica e até lastimável para o seu devido e apropriado uso, além de terceirizar a utilização de alguns deles.
Este é o caso do tradicional ginásio Poliesportivo Fioravante Ievorlino, que deixou de ser administrado pela Secretaria Municipal de Esportes para ser gerenciado, desde junho deste ano, pela Secretaria de Cultura em conjunto com o Falcões Moto Clube.
Por meio da Secretaria de Assuntos Jurídicos, o Governo Municipal justifica a ação, por período indeterminado, como permissão de uso a título precário para a instalação da sede administrativa do Falcões Moto Clube em uma sala no ginásio Fioravante Ievorlino, conforme Decreto nº 31.938/2014, de 3 de junho de 2014, publicado no Diário Oficial do Município, porém, não especifica a utilização total do equipamento.
“Como é possível pegarmos uma área como o (ginásio) Fioravente Ievorlino sem passar pela apreciação da Câmara Municipal?. É uma área gigantesca que está avaliada em R$ 40 milhões. Como vai se perder uma área daquela e entregar de mão beijada para uma entidade particular?”, questionou o ex-atleta de atletismo, Wilson David dos Santos.
Ao consultar a página da Secretaria de Esporte no site da Prefeitura de Guarulhos é possível perceber a ausência do ginásio Fioravente Ievorlino na relação de equipamentos esportivos da cidade. De acordo com a assessoria de imprensa daquela Pasta, a gestão do equipamento em questão pertence àSecretaria de Governo.
“O (ginásio Poliesportivo) Fioravante (Ievorlino) não está mais sob responsabilidade da Secretaria de Esporte. E não precisa usar a lei pra obter resposta”, disse a assessora sobre a solicitação das devidas respostas sob a LAI – Lei de Acesso á Informação – nº 12.527/2011, que prevê direito constitucional de acesso às informações públicas.
Esta normativa permite a qualquer pessoa física ou jurídica, sem a necessidade de apresentar o motivo, o recebimento de informações públicas de órgãos ou entidades. A Lei vale para os três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive aos Tribunais de Conta e Ministério Público. Entidades privadas sem fins lucrativos também são obrigadas a dar publicidade a informações referentes ao recebimento e à destinação dos recursos públicos por elas recebidos.
Mesmo não tendo sido consultada sobre uma possível gestão deste equipamento, a Wimpro, representada pelo presidente Amauri Ribeiro, afirmou que gostaria de organizar suas atividades no local. “Eles deram para os caras da motocicleta e não sei se estão trazendo algum benefício. Se nos tivesse ofertado pegaria correndo e com certeza iríamos conseguir parceiros para reformar e criar uma arena na entrada de Guarulhos, coisa que nós não temos”, declarou Ribeiro.
Em contrapartida, Edmilson Souza, secretário de Cultura, revelou que nenhuma instituição demonstrou interesse em administrar o Fioravente. Portanto, baseado em uma pesquisa realizada por esta Pasta sobre as instituições de caridade da cidade, optou por ceder aos Falcões Moto Clube. “Nenhuma administração chegou e disse querer investir R$ 200 ou R$ 300 mil. Tem uma contrapartida. O antigo prédio deles (Falcões) vai virar arquivo histórico nosso”.
Souza também afirmou que este equipamento não possui condições de receber qualquer evento esportivo e por isso sugeriu ao Governo Municipal a sua terceirização junto à Cultura. “Em janeiro fiz uma reunião com o prefeito (Sebastião Almeida – PT), e disse que nós tínhamos condições de fazer uso cultural dele. Já que para atividades esportivas que envolvam crianças ficaria complicada a logística de entrada e saída. Ao mesmo tempo a Secretaria de Esportes fez uma reforma, chegou um determinado momento e ficou o problema com a drenagem”, disse.
Totalmente deteriorado por falta de manutenção, principalmente suas piscinas, o CSE João Carlos de Oliveira, popularmente conhecido como João do Pulo, no Bela Vista, tende a se tornar mais uma unidade do CEU (Centro Educacional Unificado). “Oficialmente ainda não consigo afirmar isso. O João do Pulo virar um CEU é o mais provável, até porque só depende do prefeito”, falou o secretário de Esportes, Wagner Freitas, que deveria dominar a área que administra.
Além dos equipamentos já mencionados, o ginásio Paschoal Thomeo, o Thomeozão, também sofre com falta de manutenção e se tornou praticamente a única opção para abrigar os eventos esportivos realizados na cidade. Existem relatos que faltam até materiais para a higiene pessoal e dos atletas que usufruem daquela dependência. A situação é tão ruim que até mesmo a sede da Secretaria de Esportes, que funcionava ali, teve de ser transferida para o prédio da Secretaria de Educação “provisoriamente”.
“Eu fui ver as Olimpíadas Colegiais, que tinha mais de 100 escolas jogando não tinha público. Sei que estavam querendo consertar a quadra e não tinha dinheiro pra comprar prego e papel higiênico. Não temos nada! Por que ainda fazer os jogos senão conseguem um atleta?”, criticou o ex-atleta de basquete, Carlos Domingos Massoni, o Mosquito.
Contudo, o ex-secretário de Esportes, Wilson David (que não tem nenhum grau de parentesco com o atleta Wilson David dos Santos), destacou as atividades que atualmente são realizadas e substituídas pela prática esportiva no Thomeozão. Ele também relembrou os grandes eventos que o equipamento de esporte sediou.
“O PT foi contra a construção do ginásio Paschoal Thomeo que hoje usam para reuniões do bolsa família, bolsa auxílio e casamento comunitário. Competição de alto nível acabou e lá chegamos a trazer mundial de basquete feminino, etapa de mundial de vôlei e o futsal. O Thomeozão possui 4 torres, que inclusive uma delas seria para abrigar a Secretaria de Esportes, até porque não precisa estar pagando aluguel”, criticou.
Já o estádio Municipal Arnaldo José Celeste, Ponte Grande, é o fiel retrato do descaso com o principal palco esportivo, as praças esportivas. Antes frequentado por grandes nomes do atletismo nacional e sede de eventos da modalidade, atualmente não reúne condições de realizar competições e tampouco para treinamentos e outros afins. “Nós estamos fazendo o possível com o pouco recurso que tem”, justificou o secretário de Esportes, Wagner Freitas.