Estadão

Espera por Fed e por votação de PEC dos Precatórios leva Ibovespa para baixo

Preocupações renovadas com a pressão inflacionária e fiscal no Brasil, em meio à expectativa de votação da PEC dos Precatórios, nesta quarta-feira, 3, se juntam à cautela externa e empurram o Ibovespa para o campo negativo. O índice iniciou o dia em baixa, devolvendo parte da alta de 1,98% (105.550,86 pontos) registrada na segunda-feira (1). Ontem, quando o mercado brasileiro ficou fechado por conta de feriado, as bolsas americanas registraram novos recordes. Hoje, contudo, devolvem ganhos à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

A expectativa é que o Fed anuncie, a partir de 15h, o cronograma do início da retirada gradual de estímulos da economia, já que há sinais de retomada do emprego. Hoje, por exemplo, a pesquisa ADP mostrou criação de 571 mil vagas no setor privado dos EUA, em outubro, ante previsão de geração de 395 mil.

Na ata do Copom de outubro divulgada hoje, o Banco Central (BC) expressou preocupação com o cenário internacional, em meio à perspectiva iminente de alta de juros por bancos centrais de países emergentes, com normalização da política monetária. "Obviamente, isso traz uma pressão para Brasil", afirma em nota Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Além disso, por aqui o investidor espera a votação do texto da PEC que altera a regra de pagamento de precatórios e que é crucial para o governo interessado em ganhar fôlego orçamentário para financiar o Auxílio Brasil durante o ano eleitoral. Em busca de apoio à PEC, governistas acenam pagar dívida do Fundef, fundo para a educação básica que vigorou até 2006, fora do teto de gastos.

"Dado o aumento do risco fiscal que temos visto recentemente, as preocupações com o desajuste nas contas públicas só crescem", afirma Eduardo Cubas, sócio da Manchester Investimentos. Segundo ele, pode ser que a conclusão da votação da PEC traga algum alívio de curtíssimo prazo. "Porém, a PEC deve ser mais um tapa buraco nas contas públicas, mas não resolve os problemas fiscais em 2022, 2023, 2024", avalia.

Neste sentido, a ata do Copom também atrai a atenção do investidor, ao indicar um Banco Central ainda mais preocupado com o risco fiscal e inflacionário. Ao avaliar o documento, Cruz, da RB, afirma que o BC parece inclinado a uma Selic maior e por mais tempo, a fim de conter o avanço da inflação do ano que vem e do próximo, principalmente as expectativas.

Na semana passada, o Copom elevou o juro básico de 6,25% para 7,75% ao ano, indicando novo aumento de 1,50 ponto porcentual no último mês de 2021. "Devemos revisar, precificar não só uma alta de 1,5 pp na reunião de dezembro, mas outras duas desta magnitude em 2022, levando a Selic para 9,25% em dezembro, depois para 9,75% e encerrando o ciclo em 12,25%", adianta Cruz.

Depois de abrir aos 105.547,05 pontos hoje, que fora também a máxima diária, e ainda que em queda, o Ibovespa adotou mais cedo uma série de mínimas, se distanciando cada vez mais dos 105 mil pontos. O índice chegou a ceder cerca de 1.300 pontos em relação à mínima, aos 104.204,66 pontos (-1,28%). Além de ações de empresas ligadas ao consumo, o recuo é puxado em boa medida por papéis de CSN, que divulga balanço após o fechamento da Bolsa, e por Vale, na esteira da queda do minério na véspera, quando o mercado local ficou fechado por conta de feriado, e diante de preocupações com China, em meio a aumento de casos de covid.

"Tem ainda toda uma preocupação em torno da votação do texto da PEC dos Precatórios, se haverá quórum. Se não houver, a bandeira de uma MP passar o texto via medida provisória cresce e isso eleva o risco fiscal absurdamente", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Às 10h58 desta quarta, o Ibovespa cedia 0,90%, aos 104.603,99 pontos. Em Nova York, as bolsas também cediam, só que de forma moderada. Aliás, o Nasdaq testava alta de 0,03%. Aqui, Vale ON caía 4,09% e CSN ON recuava 3,93%, puxando o bloco do setor. Destaque ainda para Petrobras, com recuo superior a 2%, e declínio de alguns bancos, que tentavam alguma recuperação mais cedo. "A ata do Copom deixou bem claro que o que vem pela frente não será nada saboroso perspectiva de alta de juros."

No exterior, o petróleo cai acima de 2%, na esteira da alta dos estoques e pressão dos EUA em relação à reunião da Opep+ que está prestes a acontecer. Já o minério de ferro fechou com alta de 4,52% (US$ 100,10 tonelada) no porto chinês de Qingdao, depois de ceder 7,41% na véspera, a US$ 95,77 a tonelada, quando a B3 ficou fechada.

A safra de balanços também fica no radar. Após o fechamento da B3 saem os números do terceiro trimestre de CSN, Itaú Unibanco, PetroRio, Ultrapar, Cielo, GPA, e XP, entre outras.

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