Estados alertam para falta de remédios

Onze medicamentos – de analgésicos a bloqueadores neuromusculares – podem faltar em até dez dias no País, provocando, segundo o Fórum Nacional de Governadores, "um colapso dentro do colapso" que vive a saúde pública do Brasil em razão da pandemia de covid-19. De acordo com documento do fórum, já são 18 os Estados que relatam a escassez, por exemplo, de bloqueadores neuromusculares, usados para a intubação de pacientes nas UTIs.

O alerta foi dado em dois ofícios enviados ontem pelo fórum ao presidente Jair Bolsonaro e ao (ainda )ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Os documentos têm como título "Irregularidades na cadeia de suprimento dos medicamentos utilizados para IOT Covid-19". IOT é a intubação orotraqueal, necessária para os pacientes graves com a doença.

De acordo com o texto, desde maio de 2020 o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) acompanha e monitora, com as secretarias estaduais, o abastecimento de medicamentos integrantes do chamado "kit intubação". Além disso, afirmam que diante do "grave crescimento do número de casos da doença nas últimas semanas, faz-se necessário reiterar a preocupação relatada pelo Conselho, em diversas oportunidades, ao Ministério da Saúde, sobre irregularidades no abastecimento do SUS com medicamentos bloqueadores neuromusculares, anestésicos e sedativos, utilizados em indução e manutenção de tratamento, por meio de intubação orotraqueal".

Os governadores temem que a falta de ação do ministério reproduza em escala nacional o desastre registrado em Manaus, quando, apesar de alertado sobre a iminente falta de oxigênio, o governo federal teria se omitido em vez de impedir que pacientes morressem sufocados. A divulgação dos ofícios serviria como prova de que os governadores pediram socorro antes da catástrofe.

"São 18 Estados com escassez de bloqueadores neuromusculares", dizem os governadores. E pedem que o governo "faça as compras e distribua aos Estados e municípios para evitar a falta de 11 medicamentos para que a gente não tenha um colapso dentro do colapso hospitalar", segundo o governador do Piauí Wellington Dias (PT). Assinam o texto, entre outros, os do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB); e Waldez Góes (PDT), do Amapá.

O documento diz ainda que ao menos 11 medicamentos estão em falta ou com baixa cobertura (entre zero e 20 dias) em mais de dez Estados. A situação dos bloqueadores neuromusculares é a mais grave. Diante disso, eles pedem compras emergenciais de forma intensiva pelo período mínimo de 60 dias, "levando-se em consideração quantidades suficientes para distribuição" a todos os Estados". Sugerem até compras internacionais com o uso da Força Aérea Brasileira. Querem ainda redução do preço dos remédios, que sofreram um aumento de 75% na crise, e pedem o adiamento de todas as cirurgias eletivas no País por um prazo de 60 dias.

<b>Preços em alta</b>

Levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre aponta aumento de preço que variou entre 200% e 400% em relação aos medicamentos e insumos para tratamento de covid-19. A análise incluiu 22 fármacos, relacionando preços de ata do Ministério da Saúde e comparando a valores praticados entre março de 2020 e agora. O cisatracúrio, um bloqueador neuromuscular, teve aumento médio de 434%. De R$ 15,73 no ano passado, passou a custar R$ 84,03. O rocurônio, um relaxante muscular, subiu 362%, de R$ 19,26 para R$ 89,13.

Diante disso, o prefeito Sebastião Melo mandou ontem ofício ao procurador-geral de Justiça Fabiano Dallaz pedindo investigação. "O que está acontecendo é criminoso. Tenho certeza de que o MP adotará todas as providências para coibir esse absurdo praticado por laboratórios." (COLABOROU JOÃO PRATA)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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