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Europa propõe abandonar biocombustíveis de primeira geração

A Europa se afasta do biocombustível como alternativa energética, em uma mudança importante de rumo. Em um novo plano apresentado nesta quarta-feira, 30, em Bruxelas, a Comissão Europeia reduziu o que pretende ser a participação do etanol e outros combustíveis feitos a partir alimentos na matriz energética do bloco até 2030. Uma das consequências poderá ser a queda nas exportações brasileiras.

Em 2003, no auge dos investimentos nos biocombustíveis, a UE anunciou que queria 10% de seu transporte movido a etanol até 2020. Naquele momento, o produto era o carro chefe da diplomacia brasileira, em busca de mercados e de estabelecer o etanol como referência.

Mas, em 2014, os dados da UE indicavam que apenas 5,9% do transporte era movido por fontes renováveis. Isso incluía biocombustível, mas também carros elétricos e até hidrogênio.

A meta para 2020 será mantida. Mas apenas 7% dos carros terão de usar o biocombustível de primeira geração, feito a partir de alimentos, milho ou açúcar. Para 2030, a Comissão quer que a taxa desse combustível seja reduzida para apenas 3,8%. O restante viria de produtos de segunda geração, como eletricidade ou produtos alternativos feitos a partir de lixo, algas e outras fontes que não representem uma interferência na agricultura.

A proposta faz parte de uma nova estratégia da Europa de repensar seu abastecimento energético diante dos acordos climáticos assinados. O projeto ainda propõe um corte no desperdício de energia e retirar subsídios estatais para carvão e produtos fósseis.

A meta, que ainda precisa ser aprovado pelos governos europeus, estipula que o bloco corte o consumo de energia em 30% até 2030 e que todas as fontes alternativas – incluindo eólica e solar – representem 27% do abastecimento do continente.

“Precisamos gradualmente deixar os biocombustíveis de primeira geração feitos a partir de alimentos”, disse o comissário de Energia da Europa, Maros Sefcovic. Sua percepção é de que esses produtos, ao serem usados para o transporte, poderiam aumentar o preço de alimentos e até gerar um impacto maior para mudanças climáticas que a gasolina tradicional. “Esses produtos não devem representar mais de 3,8% da matriz energética em 2030”, disse.

Segundo ele, essa taxa foi estabelecida depois de um “profundo estudo de impacto” do que representarão os biocombustíveis.

A proposta, porém, promete sofrer dura oposição. “Fomos traídos pela Comissão Europeia, depois de todos os investimentos que realizamos”, declarou a Associação de Etanol da Europa.

A proposta foi duramente criticada por diversos grupos, entre eles a Copa e Cogecas, as cooperativas agrícolas da Europa. “A proposta é totalmente inaceitável”, declararam. Para elas, esses combustíveis são ainda hoje a única alternativa realista ao petróleo. “Sem eles, a Europa não conseguirá atingir suas metas ambientais”, alertaram.

Para as cooperativas, porém, a maior preocupação é o impacto na agricultura do bloco. Na Europa, milho, açúcar de beterraba e trigo tem sido usado para produzir o combustível. “Os biocombustíveis tem dado uma alternativa de renda aos fazendeiros”, alertou Pekka Pesonen, secretário-geral das cooperativas. Para ele, a meta de 7% precisa ser mantida até 2030.

Para o Conselho de Biodiesel da Europa, a medida irá “destruir uma indústria criada por uma lei da UE e que hoje emprega 220 mil pessoas”. “Biocombustíveis avançados não conseguirão substituir imediatamente a queda nos produtos de primeira geração”, alertou e entidade. “O risco real é de que 110 mil postos de trabalho sejam cortados”, insistiu.

“A proposta vai gerar um aumento do combustível fóssil no transporte”, insistiu Raffaello Garofalo, secretário-geral da entidade.

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