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Europa treina tropas para minimizar violência

O controle e a repressão de multidões durante protestos, como os ocorridos em São Paulo, são uma disciplina permanente de estudos em países da Europa, como a França e o Reino Unido, onde as técnicas de “manutenção da ordem” são estudadas desde o ano de 1925.

As Companhias Republicanas de Segurança (CRS), as tropas de choque francesas, contam até com um centro nacional para investigar a melhor forma de controlar e reprimir manifestações que usam violência com o menor uso da força possível. Ainda assim, incidentes graves com mortes continuaram a acontecer no continente na última década.

O tema da “manutenção da paz civil”, função das tropas de choque, entrou nas disciplinas estudadas pelas forças de ordem do Reino Unido há cerca de 90 anos, ainda na Shangai durante o período colonial. O objetivo era aperfeiçoar a resposta da polícia a rebeliões como o Movimento 30 de Maio, uma revolta anti-imperialista realizada na China.

Desde então, a disciplina é estudada pelas polícia dos principais países da Europa, com o objetivo de reduzir o risco de mortes e consequências violentas nas manifestações.

Ainda assim, a noção de controle do uso da força passou a ser discutida de forma recente. Ainda no continente europeu dos anos 1970, a polícia respondia a manifestações com disparos de munições reais contra a população civil. Um dos casos mais escandalosos aconteceu em 30 de janeiro de 1972, em Derry, na Irlanda do Norte, quando 14 homens morreram – outro morreria quatro meses depois – no chamado “Domingo Sangrento”.

Antes disso, na França, as forças de ordem já haviam criado uma escola especializada no controle de multidões para essas ocasiões. O Centro Nacional de Treinamento de Forças da Gendarmeria (CNEFG), mantido pela Polícia Militar francesa, foi criado no ano de 1969 em resposta aos distúrbios de Maio de 1968 em Paris. O objetivo da escola é criar técnicas e aperfeiçoar o trabalho das tropas de choque durante operações de campo.

Em Saint-Astier, onde uma cidade-fantasma com área de 140 hectares foi construída, os alunos enfrentam circunstâncias reais de combate, como manifestantes radicais que partem para a agressão contra as forças de ordem.

O objetivo é ensinar os policiais a enfrentar situações de tensão que envolvam o uso de armas caseiras, como coquetéis molotov, por exemplo, sem que seja necessário aos “moblos” – como são chamados os soldados móveis – recorrer ao uso excessivo da força.

Técnicas

Uma das técnicas usadas pelo CRS na França é a romper a coesão dos manifestantes dividindo a multidão em pequenos grupos, de forma a identificar e prender os líderes mais radicais e violentos. Na Inglaterra, a Police Support Unit (PSU), a tropa de choque britânica, faz uso a tática do fechamento das saídas de forma a conter os manifestantes em uma única área, evitando o danos colaterais.

Em ambos os países, a regra é o uso de recursos como soldados montados a cavalo, cães treinados, canhões de água, carros blindados, bombas de efeito moral, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Mas o uso de armas com balas de borracha ou de tasers – armas de descarga elétrica – é muito limitado.

Violência

Nada disso impede que manifestações com resultados violentos voltem a acontecer, como no G20 de Londres, em 2009, nas manifestações estudantis de 2010, também na capital britânica, nas rebeliões inglesas de 2011 ou ainda nos protestos contra o casamento homossexual na França, em 2012 e 2013.

Tampouco os casos de uso excessivo da força deixaram de acontecer. Em 26 de outubro de 2014, o jovem Rémi Fraisse, manifestante ambientalista que protestava contra a construção da barragem de Sivens, em Testet, foi morto pela polícia da França após a explosão de uma granada ofensiva do tipo OF F1, que em contato direto com o corpo pode provocar amputações ou lesões internas graves.

Para evitar que mortes dessa natureza voltem a acontecer, a polícia francesa evita ao máximo intervir em protestos, a tal ponto que prefere deixar que o patrimônio seja eventualmente atingido e depredado, agindo apenas em caso de risco iminente à integridade física de inocentes e à segurança de instituições.

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