Economia

Fundos investigados pela Greenfield ignoraram advertências sobre empresas

Gestores de fundos de pensão de empresas estatais investigados no âmbito da Operação Greenfield ignoraram advertências e aportaram bilhões em investimentos duvidosos, segundo o Ministério Público e a Polícia Federal. As aplicações foram feitas mesmo diante de prejuízos constatados e avaliações “inverossímeis”.

Análises apontavam empreendimentos sujeitos a riscos ambientais e jurídicos como mais seguros do que títulos da dívida pública, considerados o investimento de menor risco em um país. Em um caso emblemático, os fundos Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa) aplicaram R$ 1,042 bilhão cada no Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Sondas, criado para financiar a construção 28 sondas de exploração de petróleo da Sete Brasil. O valor se somava ao investimento inicial de R$ 350 milhões feito por ambos.

Segundo os investigadores, gestores da Petros já sabiam que as primeiras sondas não seriam entregues no prazo quando decidiram realizar o segundo aporte. Na Funcef, executivos de áreas jurídicas e de risco se manifestaram contra o novo aporte por estar fora dos limites prudenciais do fundo. As recomendações foram ignoradas.

A Previ (Banco do Brasil) já havia investido R$ 180 milhões no negócio, mas decidiu não fazer aporte adicional. Hoje, especialistas avaliam que houve perda total dos investimentos.

Em outro caso, o Funcef teve prejuízo de R$ 270 milhões ao investir, em 2009, no FIP Cevix, destinado à fundação de uma empresa de energias renováveis. As fraudes começaram na escolha da consultoria que avaliaria os ativos da Desenvix, outra sócia do fundo. A Upside Finanças Corporativas perdeu o pleito inicial, mas foi a única a ganhar “nova oportunidade” e levou o contrato.

A Upside deveria atribuir valores aos ativos da Desenvix, que seriam usados para capitalizar o FIP e serviriam de referência para definir o aporte do Funcef. Os avaliadores da Upside – que chegou a figurar entre as melhores assessorias no ranking da Anbima, associação do mercado de capitais – atestaram que o investimento era mais seguro que títulos do Tesouro Nacional. A hipótese “inverossímil”, segundo os investigadores, desconsiderou riscos jurídicos, ambientais e operacionais.

A denúncia aponta que o valor investido foi desviado para que a Desenvix melhorasse seu balanço, em detrimento das obras de usinas para geração de energia do contrato. O Funcef ainda injetou mais R$ 80 milhões no FIP para tentar salvar o investimento, sem sucesso.

J&F. Em outro caso emblemático, entre 2009 e 2010, os fundos de pensão de Petrobrás e Caixa investiram R$ 272,25 milhões cada no FIP Florestal, criado para investir na Eldorado Brasil Celulose, que pertence ao grupo J&F, mesma controladora do frigorífico JBS. Para bater o martelo sobre o negócio, a cúpula dos fundos acatou um relatório que apontava valor de mercado de R$ 1,187 bilhão.
A cifra era mais que o dobro do que apontou o corpo técnico do Funcef e o triplo da avaliação da Silviconsult, contratada pela Petros. Com isso, segundo os investigadores, os fundos de pensão pagaram mais de R$ 270 milhões pela participação que valia, no máximo, R$ 113 milhões.

O texto aponta que os fundos de pensão desrespeitaram resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), que proíbem o financiamento, por fundos de previdência complementar, de incorporação imobiliária.

Ainda concordaram com projeções ultraotimistas sobre receitas futuras, caso do FIP Enseada, que tentava ressuscitar a fabricante de eletroeletrônicos Gradiente. O investimento de R$ 17 milhões de Petros e Funcef, neste caso, virou pó. Grupos que acompanham de perto o caso dos fundos de pensão alertam que ainda há muito mais a ser investigado além dos dez casos listados por MPF e PF. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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