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GENTE – Dona Umbelina registra em poesias o passado e o presente

Se na literatura brasileira encontramos grandes escritores que continuam a escrever mesmo depois que velhice chega, como no caso de Ariano Suassuna, a história não é diferente entre escritores anônimos

Aqui na cidade, no bairro Santa Mena, vive Umbelina Pavuenos – uma senhora de 81 anos que começou a escrever em 1991, depois de perder seu marido Miguel na luta contra o câncer de pele. O primeiro poema veio em homenagem a ele, com o nome "Amar demais". 

Depois vieram poemas sobre os pais e a vida na roça no município paulista de Cajuru, onde nasceu. Pouco a pouco, veio a inspiração para escrever a respeito do cotidiano do bairro em que agora reside e sobre cada uma das pessoas que conhecia.  E assim, tendo estudado até a 4ª série do fundamental e sem ter cultivado interesse especial por literatura, Dona Umbelina tornou-se poetisa.  "A gente tem que fazer algo na vida", justifica, afastando qualquer mística em torno da escrita. "Nunca achei nenhuma dificuldade. Acordo de madrugada, passo roupa e enquanto isso vou pensando", afirma.

Lembranças – Nos textos, ela revive a juventude, fala do prazer que possui em viver – apesar dos sofrimentos – e da impressão que tem da vida agora, já na velhice. Os bailes passados no Clube do Corinthians, ("sou corintiana roxa!", declara), são lembrados com carinho nos poemas e nas conversas. "Eu dançava a noite inteira. Chegava em casa, meu pai perguntava se eu estava bem e então eu tomava café da manhã. Depois ia trabalhar na tecelagem", diverte-se.

O marido, com quem ela foi casada por 30 anos, surgiu de repente em sua vida, quando ele tentava ajudar no resgate do corpo da mãe de Umbelina, que cometeu suicídio jogando-se em um rio. Na época, ela tinha 24 anos e namorava há 10 com o mesmo rapaz. "Ele quis me ajudar, cuidar de mim. Foi responsável no momento em que eu precisava e casamos depois de cinco meses". O amor antigo jamais foi esquecido e sempre é rememorado em poemas e nos diálogos da senhora. Com olhos cheios de lágrimas, lembra-se do marido que partiu e recitou de cor, por duas vezes, os versos de "Amar Demais".

 

Por muito amar eu sofri

Por muito amor eu vivi

E por tudo que pensei na vida

Eu lembro e penso em ti

 

Como tudo na vida passa

Esse amor também passou

Só restou a saudade

De alguém que muito me amou

 

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