Depois de acelerar o ritmo de queda da taxa Selic, o Banco Central anuncia nos próximos dias uma ampla reformulação e simplificação dos depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central, parte sem nenhuma remuneração.
Será uma espécie de “reforma tributária” dos depósitos compulsórios, que têm importante peso no custo do crédito. Nessa primeira etapa, o BC vai unificar e reduzir o número de alíquotas desses depósitos.
Hoje, os bancos precisam deixar no BC uma parte dos depósitos à vista (contas correntes), dos depósitos a prazo (como os Certificados de Depósito Bancário e aplicações em debêntures) e da poupança. Para cada uma dessas obrigações, há uma regra e cálculo diferentes. A ideia é uniformizar as exigências para permitir que os bancos repassem a economia operacional aos clientes – o chamado compulsório é parte do custo que as instituições cobram por meio do spread (diferença entre a taxa que os bancos captam e a que cobram dos clientes).
Num segundo momento, será feita uma redução gradual do nível dos compulsórios, abrindo caminho para elevar o volume de dinheiro disponível para os bancos emprestarem às empresas e pessoas físicas. Segundo o BC, estão estocados na instituição R$ 428,4 bilhões.
Esta será primeira medida voltada à redução do custo do crédito e dos spreads da agenda de reformas estruturais lançada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn. Como a manutenção desses depósitos representa custo para os bancos, essa diferença acaba fomentando o aumento das taxas bancárias.
A agenda BC+, baseada em quatro pilares (educação financeira, legislação mais moderna e sistema financeiro e crédito mais barato), foi lançada pelo Banco no fim do ano passado e a expectativa do mercado financeiro era de que a simplificação dos compulsórios demorasse uma pouco mais.
Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, o BC não quer, neste primeiro momento, mudar o nível do compulsório para não competir com o movimento de queda da taxa Selic. A política do BC dá preferência ao uso da taxa de juros, em vez de utilizar a calibragem do volume de crédito via redução dos compulsórios.
O entendimento é que as duas formas, se usadas conjuntamente, competem entre si. Para controlar a inflação é mais eficaz mexer no nível da taxa do que no volume de depósitos. A avaliação é que se houvesse liberação de compulsórios, como defendiam aliados do governo Temer, o volume liberado dificilmente seria direcionado a novos empréstimos.
Spreads
O governo está fazendo ainda um novo mapeamento da decomposição dos spreads bancários para identificar os fatores que mais pesam para se manterem elevados, como carga tributária, ineficiência e menor competição bancária.
Nesta segunda-feira, 23, Goldfajn se reuniu com toda a diretoria da Febraban (entidade que representa os bancos) para acelerar as medidas. Nos próximos dias, o governo também vai anunciar a implantação efetiva para a redução do juros no rotativo do cartão de crédito. Desde que a medida foi anunciada pelo presidente Michel Temer, o governo tenta aperfeiçoar a norma para afastar riscos jurídicos.
Estão avançados ainda os estudos para a reformulação na legislação do cadastro positivo e na forma de mudança na forma de cálculo da TJLP, usada em financiamentos do BNDES. Como antecipou o Estado, o governo vai atrelar a TJLP às taxas das NTN-B (títulos do Tesouro corrigidos pela inflação). A proposta que ganha força no governo é de que a mudança só tenha efeitos nos novos empréstimos, sem alteração no estoque. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.