A presidente da Petrobras, Graça Foster, confirmou nesta quarta-feira, 17, durante coletiva de imprensa, que colocou seu cargo e de toda a diretoria à disposição da presidente Dilma Rousseff. Segundo ela, a decisão foi tomada diante do risco de que a permanência da diretoria inviabilizasse a aprovação do balanço da estatal.
Graça afirmou ainda que as investigações da Operação Lava Jato indicaram a necessidade de “uma sinalização positiva de que a diretoria está em condições, do ponto de vista de sua governança, de assinar o balanço”.
“Eu preciso ser investigada, os diretores, nós precisamos ser investigados. E para isso precisamos das auditorias internas. Eles chegam, entram na sua sala, abrem seus armários, pegam seus papéis, computadores. E isso é bom”, disse Graça.
Segundo ela, a diretoria permanece “enquanto contar com a confiança da presidente e ela entender que devo ficar”. Graça afirmou que conversou com Dilma “uma, duas, três vezes”, mas que uma definição “é ela quem tem que falar”.
“A coisa mais importante para a diretoria é a Petrobras, muito mais importante que o meu emprego. Temos discutido isso no conselho também, essa é a motivação de se discutir a conveniência de nossa permanência em função do balanço”, disse a executiva. “Os funcionários, 85 mil funcionários, cobram que sejamos respeitados também pela governança”, completou.
Segundo a executiva, a não apresentação do balanço não foi uma imposição da auditoria externa, PriceWaterhouse Coopers (Pwc). “Nós não estávamos prontos”, afirmou. “Os resultados das investigações tornaram evidente que nós precisamos fazer baixa no patrimônio líquido da companhia.”
Graça afirmou que “não há segurança” de que informações do resultado financeiro serão divulgadas “em sua plenitude” nos próximos 45 dias. Esse é o prazo para a divulgação do balanço do terceiro trimestre deste ano, sem ter que antecipar o pagamento de dívidas. A publicação do balanço não auditado está previsto para 30 de janeiro.
“Estamos trabalhando para fazer avaliação do real valor do ativo. A gente chama de efeito da Operação Lava Jato, um nome menos feio. O nome correto é corrupção”, afirmou Graça.
A preocupação da empresa é que o patrimônio da empresa seja revisto à medida que novas delações à Polícia Federal deem a dimensão do volume de recursos desviados.
Apesar de admitir que a empresa passa por um momento de dificuldade, Graça garante que a empresa não tem problema de caixa para dar conta dos investimentos. “Não vamos ter problema de financiabilidade. Não batemos na porta do governo para pedir dinheiro”.
Posicionamento
Graça cobrou do governo federal um “posicionamento urgente” sobre a situação das empresas envolvidas na Lava Jato. Segundo ela, comprovadas as denúncias de corrupção, a estatal ficaria proibida de contratar as empresas que atuam nos principais estaleiros do País na construção de embarcações e plataformas para a Petrobras, o que poderia comprometer a produção da companhia.
“É urgente que o governo se posicione de alguma forma para resolver os impactos da operação lava jato no que se refere às empresas. Nós precisamos delas ou de licitações internacionais para que possamos atingir a curva de produção. Uma vez evidenciada uma série de fraudes e corrupção, não podemos contratá-las, essa é a grande ameaça à curva de produção”, afirmou Graça Foster.
A executiva sugeriu que o governo elaborasse um projeto de continuidade do Promimp, programa lançado em 2003 para priorizar a indústria naval brasileira no atendimento às encomendas da Petrobras para exploração do pré-sal. “É preciso fazer o Promimp 2 urgentemente”, afirmou.
“É fundamental que o governo se organize urgentemente para que resolva as empresas, por que o mercado se fecha, ela não consegue se financiar e começa uma serie de problemas em decorrência disso”, complementou Graça.
Incômodo
A executiva afirmou que está “absolutamente confortável” para responder às investigações da Lava Jato. A executiva, que em 2012 demitiu Paulo Roberto Costa da diretoria de Abastecimento, e também outros diretores hoje implicados nas investigações de corrupção, disse também que à época “sabia o que incomodava” no “estilo de gestão” dos outros diretores.
A executiva foi questionada se já tinha indícios de irregularidades na empresa quando assumiu a presidência, em abril de 2012. Poucos meses após sua posse, Graça Foster demitiu o ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, e também Renato Duque, ex-diretor de Serviços, e Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional.
“Sabia o que me incomodava. São estilos de gestão diferentes. Não me metia no que estava sendo feito”, afirmou a executiva. Segundo ela, a diretoria atual trabalha mais próxima e com “intromissão muito grande”.
“Não poderia trabalhar com a independência das áreas. Não saberia fazer. Entendi, por tudo que se passava, que, no caso da diretoria de abastecimento, seria uma convivência quase impossível. E outros diretores entenderam, por razões diferentes, que a convivência comigo também não seria fácil ou por que queriam fazer outras coisas da vida. Essa foi a grande a razão”, explicou.
A executiva afirmou ainda que a diretoria não “tem receio da verdade”. “Estamos diante de vocês por que não temos receito da verdade. Estamos absolutamente confortáveis, buscando na nossa memória as respostas para ser justo com as pessoas”, afirmou.