Estadão

Ibovespa cai aos 112 mil pontos com incerteza fiscal e queda do petróleo

Depois de sustentar por dois dias o nível de 114 mil pontos, o Ibovespa caiu 1,63% nesta segunda, 27, aos 112.316,16 pontos – a maior baixa desde 3 de janeiro (-2,08%) -, diante da queda dos preços de commodities no exterior e do receio com a situação fiscal do País. Às vésperas da virada de mês e das decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos, na próxima quarta-feira, 1º, o ajuste de posições e a realização dos ganhos obtidos nos últimos dois pregões também contribuíram. Mesmo com a queda de hoje, o índice ainda acumula alta de 0,25% em relação à última sexta-feira, na quarta semana consecutiva de ganhos.

Pesaram sobre o mercado declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a defender um papel mais forte de financiamento por parte do BNDES ainda na manhã de hoje. Durante a tarde, após a reunião do mandatário com governadores, o ministro Alexandre Padilha ainda informou que o governo definirá com Estados e municípios um plano de investimentos em obras e criará uma comissão para avaliar os pleitos de recomposição do ICMS. Ambas as medidas podem levar a um aumento das despesas federais e foram vistas com apreensão por investidores.

Como resultado, 68 das 88 ações listadas no Ibovespa encerraram o dia em queda, refletida nas baixas disseminadas entre todos os índices setoriais. "Se eu tivesse de dar um fator hoje, eu ficaria com a questão fiscal, porque toda a nossa curva de juros estressou com a reunião de Lula com os governadores, querendo reaver a questão da tributação de ICMS que ficou perdida", diz o analista de investimentos da Clear Corretora Leandro de Cecchi.

Os ruídos domésticos e a queda do petróleo no mercado internacional – entre 1,0% (Brent) e 1,64% (WTI) – levaram a um novo dia de baixa para os papéis da Petrobras, que cederam 2,27% (ON) e 2,21% (PN), ainda pressionados pela incerteza sobre a gestão, após a confirmação do ex-senador petista Jean Paul Prates para a presidência da petroleira ontem. Siderúrgicas e mineradoras também encerraram o dia em baixa, com destaque para Vale ON (-2,73%), Gerdau Metalúrgica (-2,26%) e Gerdau (-2,21%), apesar da alta de 0,76% do minério de ferro em Cingapura.

"A queda da Petrobras puxa um pouco a Vale e, agora, o desempenho fica por conta do que vai acontecer na segunda-feira, quando o mercado do minério de ferro volta a operar na China", diz o economista e consultor Álvaro Bandeira. Os negócios no gigante asiático estão paralisados desde a última segunda-feira, 23, devido ao feriado do Ano Novo Lunar. "Na semana que vem tem a virada de mês, que interfere um pouco, e tem decisões de política monetária. Então tem também algum ajuste de posições e um pouco da realização dos últimos dias."

O setor financeiro também operou em baixa hoje, com impacto das falas de Lula sobre o BNDES e em meio à expectativa pelo balanço dos grandes bancos para o quarto trimestre de 2022. Investidores aguardam os documentos – que começam a ser divulgados na semana que vem – para avaliar o impacto da crise da Americanas sobre o segmento. Assim, os papéis dos principais bancos tiveram perdas, com destaque para Bradesco PN (-2,97%), Itaú Unibanco PN (-2,12%) e para as units do BTG Pactual (-2,22%). O índice de referência do setor caiu 2,02% hoje e acumula baixa de 0,18% em 2023.

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