Estadão

Impasse na Câmara dos EUA ameaça aprovação de ajuda militar

Desde que a bancada republicana derrubou seu próprio líder, Kevin McCarthy, há duas semanas, a Câmara dos Deputados dos EUA parou de funcionar. Sem presidente, ela não pode votar leis ou aprovar um orçamento. O problema, até então uma questão interna, ultrapassou as fronteiras americanas nesta sexta-feira, 20, quando Joe Biden pediu formalmente US$ 105 bilhões em ajuda para as guerras de Israel e Ucrânia.

Ontem, os republicanos fracassaram em mais uma tentativa de eleger um presidente da Câmara. O deputado Jim Jordan, um republicano ultraconservador e aliado intransigente de Donald Trump, não conseguiu novamente votos suficientes para se eleger depois que 25 republicanos se recuaram e apoiá-lo – foi a terceira tentativa dele esta semana.

<b>Polarização</b>

O impasse é resultado de uma maioria apertada em tempos de polarização política. Os republicanos têm apenas 9 deputados a mais que os democratas (221 a 212, com 2 cadeiras vacantes). Eles precisam de 217 votos para eleger um líder. A consequência direta dessa matemática é que um pequeno grupo de 10 deputados é capaz de pressionar por uma agenda radical, colocando sempre uma faca no pescoço dos congressistas moderados.

Foi assim que McCarthy caiu. Dias antes, ele arquitetou com sucesso um esforço de última hora para evitar a paralisação do governo americano. Diante de um impasse com a ala radical do Partido Republicano, McCarthy fechou um acordo com os democratas e conseguiu os votos necessários para manter a burocracia estatal funcionando provisoriamente por mais 45 dias, até que um acordo definitivo seja votado. Foi o suficiente para que Matt Gaetz, um deputado trumpista da Flórida, protocolasse uma moção para destituí-lo do cargo. "Não me arrependo de ter negociado", disse McCarthy.

Com a queda – a primeira destituição de um líder da Câmara dos Deputados na história da democracia americana -, os republicanos instalaram um presidente interino, Patrick McHenry, um tapa-buraco até a escolha de um novo líder. O problema é que a bancada está dividida e não encontra um nome de consenso.

Na primeira tentativa, na semana passada, os republicanos votaram a portas fechadas entre dois candidatos radicais: o adversário de Jordan era Steve Scalise, um deputado de Louisiana com ligações com a Ku Klux Klan. Scalise venceu apertado (113 votos a 99). Ma a escolha nem foi levada para o plenário, porque ele desistiu antes por falta de apoio.

Jordan herdou a vaga e teve sua chance. Na primeira votação em plenário, teve 200 votos. Seus aliados começaram então uma campanha agressiva de pressão contra os deputados moderados do partido, ameaçando atacar a imagem dos colegas de bancada junto aos respectivos eleitorados. Muitos receberam ameaças anônimas de morte.

<b>Estaca zero</b>

A estratégia, no entanto, foi um tiro no pé. Na segunda tentativa, Jordan obteve ainda menos apoio: 199 votos. Ontem, na terceira, ele sofreu mais defecções e saiu do plenário com o voto de apenas 194 republicanos. E a escolha do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA voltou à estaca zero. "Neste momento, a agenda republicana e conservadora, está totalmente fora dos trilhos", disse o republicano Mario Diaz-Balart, um opositor de Jordan.

Para os republicanos, o problema criado por eles mesmos pode ter graves consequências. A primeira delas é a imagem de um partido disfuncional, que não consegue governar a si mesmo, o que ameaça a maioria legislativa nas eleições do ano que vem.

O segundo impacto político é a aprovação de um orçamento definitivo, que ainda não foi votado. Os 45 dias de validade do acordo provisório para manter o governo funcionando já são 28 – e a contagem regressiva não para.

<b>Sem dinheiro</b>

Por fim, o impasse na Câmara agora ameaça o pacote de ajuda pedido por Biden, que além de US$ 14,3 bilhões para os israelenses e US$ 61 bilhões para os ucranianos, inclui também dinheiro para Taiwan e a para a segurança da fronteira com o México.
A ala mais radical do Partido Republicano, ligada a Trump, aceita ajudar Israel, mas questiona qualquer assistência enviada à Ucrânia. No entanto, sem um líder da Câmara dos Deputados, a Casa Branca fica de mãos atadas, o Congresso permanece paralisado e ninguém recebe nada – nem mesmo Israel. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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