O início recente de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff tem adicionado incerteza a um já difícil ambiente político, de acordo com a agência de classificação de risco Fitch, que retirou o grau de investimento do Brasil ao cortar o rating de BBB- para BB+, com perspectiva negativa.
A Fitch acredita que o processo de impeachment prejudicaria a execução e a eficácia dos ajustes fiscais corretivos. “O cenário político já tem sido contaminado pelo avanço das investigações da Petrobras, muitas vezes deixando tensas as relações do governo com os seus aliados no Congresso e reduzindo a popularidade da presidente. A taxa de desemprego mais elevada e uma crise econômica profunda poderiam levar a desafios políticos e de governabilidade adicionais no próximo ano”, aponta a Fitch.
A agência destaca que a crise econômica e a depreciação do real em relação ao dólar levaram a uma redução de 36% no déficit em conta corrente em termos nominais entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período do ano passado. Maior redução do déficit em conta corrente é esperado durante o período de previsão, o que poderia reduzir os riscos relacionados com potenciais condições mais apertadas de financiamento externo. Por outro lado, a inflação permanece elevada em 10,5%, e as expectativas de inflação, depois de terem recuado, já mudaram de curso e começaram a aumentar em 2016 e 2017, mantendo-se acima da meta de inflação de 4,5%.
Segundo a Fitch, o rating BB+ do Brasil é apoiado pela sua diversidade econômica e as instituições civis consolidadas, com seus indicadores de renda per capita e de governança melhores do que a média dos países com rating BB. “A capacidade de absorção de choques do País é impulsionado pela sua taxa de câmbio flexível, as reservas internacionais robustas, uma posição soberana de credor externo forte, mercados de capitais de dívida do governo nacional profundo e desenvolvido, e um sistema bancário capitalizado adequadamente”, ressaltou a agência.
A Fitch apontou ainda que a parcela da dívida em moeda estrangeira no total da dívida das administrações públicas continua a ser baixa e a gestão prudente reduziu os riscos de refinanciamento das taxas de juros. “Além disso, o governo mostrou alguma capacidade de resposta em condições difíceis através da implementação de ajustes de preços relativos, o aperto da política monetária em meio a uma profunda recessão e controle dos estímulos quase fiscais”.