Estadão

Irã volta a obrigar mulheres a usarem véu após onda de protestos contra imposição de traje

As autoridades do Irã anunciaram neste domingo, 16, uma nova campanha de patrulha para forçar as mulheres a usarem véu em local público. A polícia da moral volta às ruas 10 meses depois que uma jovem foi morta sob a acusação de ter violado o código de vestimenta, desencadeando protestos em todo o País.

"A partir de hoje, a polícia – em patrulhas de carro e a pé – vai alertar e punir as pessoas que, infelizmente, desobedecem as ordens e continuam desrespeitando o código de vestimenta", afirmou o porta-voz da polícia, Said Montazeralmahdi, citado pela agência <i>Tasnim</i>.

O anúncio acontece 10 meses após a morte, em 16 de setembro de 2022, da curda iraniana Mahsa Amini, que tinha apenas 22 anos e foi detida pela polícia da moral sob a acusação de ter violado o código de vestimenta da República Islâmica, que obriga as mulheres a usar o véu em público. A polícia recuou em grande parte após a morte da jovem, enquanto as autoridades lutavam para conter protestos em massa pedindo a derrubada da teocracia que governou o Irã por mais de quatro décadas.

Os protestos diminuíram em grande parte no início deste ano, após uma forte repressão na qual mais de 500 manifestantes foram mortos e quase 20 mil detidos. Mas muitas mulheres continuaram a ostentar o código de vestimenta oficial , especialmente na capital, Teerã, e em outras cidades.

A polícia da moralidade raramente era vista patrulhando as ruas e, em dezembro, houve até alguns relatos – posteriormente negados – de que eles haviam sido dissolvidos.

Já neste domingo, em Teerã, homens e mulheres da polícia da moral podiam ser vistos patrulhando as ruas em vans sinalizadas. No final do sábado, 15, a polícia prendeu Mohammed Sadeghi, um ator jovem que havia postado um vídeo nas redes sociais, em resposta a outro vídeo que mostrava uma mulher sendo detida pela polícia da moral. "Acredite em mim, se eu vir tal cena, posso cometer um assassinato", disse ele.

O jornal reformista <i>Shargh</i> informou neste domingo que quatro mulheres foram condenadas recentemente a "frequentar aulas de psicologia e a limpar hospitais". Também foram proibidas de dirigir por dois anos.

Desde o início do ano, a autoridades adotaram uma série de iniciativas, que vão do fechamento de estabelecimentos comerciais, principalmente restaurantes, até a instalação de câmeras para localizar as pessoas que desafiam a proibição.

Em um caso recente, a atriz Azadeh Samadi foi barrada nas redes sociais e ordenada por um tribunal a buscar tratamento psicológico para "transtorno de personalidade antissocial" depois de aparecer em um funeral há dois meses usando um boné na cabeça. (Com agências internacionais).

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