Estadão

Juros: Taxas disparam com ata, exterior e proposta para precatórios

Os juros futuros dispararam nesta terça-feira, 26, em que vários fatores internos acabaram exacerbando na curva o efeito negativo do ambiente internacional, marcado mais uma vez por elevação das taxas dos Treasuries longos e do dólar, temperado ainda pelo avanço do petróleo. No Brasil, a ata do Copom e a nova estratégia do governo para resolver a questão dos precatórios pesaram, com ajuda do comportamento de serviços dentro do IPCA-15, que veio pouco abaixo da mediana das estimativas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou a 10,790%, de 10,575% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 foi de 10,33% para 10,61%. O contrato para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,88% (10,62% ontem). A taxa do DI para janeiro de 2029 avançou de 11,20% para 11,47% (máxima). A do DI para janeiro de 2031 saltou a 11,76%, de 11,51% ontem.

Dentro da liquidação dos ativos domésticos, o miolo da curva foi um dos mais afetados, na medida em que a o clima no exterior e a piora na percepção fiscal acabam interferindo na percepção sobre o ciclo para Selic.

"A ata veio pesada e consolidou a ideia de que não vai ter corte de 75", disse a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. Ela destaca como pontos hawkish do documento as menções às taxas de juros de longo prazo nos países avançados e a ampla discussão sobre os fatores de resiliência da atividade doméstica. Do exterior, avalia que os retornos dos Treasuries nestes níveis num cenário orçamentário complicado nos EUA ampliam a aversão ao risco, com ajuda ainda do avanço nos preços do petróleo.

De acordo com cálculos do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, no meio da tarde, a curva preservava apenas 10% de probabilidade de redução de 75 pontos da Selic nas próximas reuniões até janeiro. "Na de março, já temos 48 pontos", disse. Ou seja, naquele mês já há projeção de corte menor do que 50. O economista explica que a manutenção de alguma chance de 75 nos próximos encontros do Copom se dá muito mais porque 50 pontos, sendo consenso, é a chamada "aposta de graça", do que por convicção.

Na ata, os diretores afirmaram sobre os próximos passos que concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária ao processo desinflacionário. "O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva", repetiu o BC como na ata de agosto. Para o fim de 2023, a curva indica Selic próxima de 11,75%. Para o fim de 2024, a precificação, que já chegou a ficar abaixo de 9%, nesta tarde era de 10%.

No exterior, os retornos dos Treasuries de longo prazo subiram de forma até moderada, mas, como observa o economista Vitor Beyruti, da Guide Investimentos, o problema é que vêm avançando de forma contínua. "Isso amplia os receios sobre o crescimento global e com os EUA ainda em risco de shutdown", pontuou. À tarde, a taxa do T-Bond de 30 anos chegou a bater em 4,7% pela primeira vez em mais de 12 anos. O yield da T-Note de dez anos, na máxima, hoje foi à 4,56%.

O IPCA-15 de setembro, de 0,35%, veio abaixo da mediana das estimativas (0,37%), mas o que o mercado olhou mesmo foram os preços de serviços e serviços subjacentes, que avançaram além do esperado, endossando a mensagem da ata de que o espaço para corte da Selic é mesmo limitado a 50 pontos.

O dia teve ainda a repercussão negativa da proposta do governo de rever o pagamento de precatórios alterado pela PEC aprovada em 2021 e que fixou um teto anual para essas despesas. A sensação no mercado é de novo "malabarismo fiscal". "Soa como pedalada. É uma primeira exceção sendo almejada pelo governo e isso acaba pesando num dia em que a agenda econômica e o exterior atrapalharam", disse Beyruti.

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