Líderes do PSB reagiram com surpresa à conclusão das investigações da Aeronáutica que apontou a sucessão de falhas humanas como causa do acidente aéreo que vitimou o presidenciável Eduardo Campos em 13 de agosto de 2014, conforme revelou nesta sexta-feira, 16, o jornal O Estado de S. Paulo. Os dirigentes questionam a falta de explicação para o desligamento da caixa-preta de voz e a razão pela qual o piloto Marcos Martins sofreu “desorientação espacial” sem que os aparelhos do moderno Cessna Citation ou o copiloto Geraldo Magela Barbosa percebessem que o jatinho estava em movimento de descida e não de subida.
O vice-governador de São Paulo, Márcio França, e o líder do PSB na Câmara dos Deputados e vice na chapa presidencial de Marina Silva, Beto Albuquerque, contaram que voaram algumas vezes naquela aeronave e que nunca souberam de atritos ou indisposição entre piloto e copiloto. Ao Broadcast Político, os líderes revelaram que Campos sempre voou na campanha com Martins e Magela e elogiaram a experiência destes profissionais. “Ele (Campos) gostava muito deles. Se referia a eles como caras hábeis. Só ouvi elogios sobre eles”, disse Albuquerque.
França viu o resultado das investigações da Aeronáutica com desconfiança e disse que esperava um trabalho mais “esclarecedor”. O vice-governador de São Paulo põe em dúvida a teoria da “desorientação espacial” do piloto e questiona se é possível que os instrumentos da aeronave e até o copiloto também tivessem perdido a referência do avião em relação ao solo. “Era preciso que os dois (piloto e copiloto) entrassem em desorientação. Mas até onde sei, os aparelhos não desorientam”, afirmou.
Os dirigentes acham difícil um piloto comercial com a experiência de Martins cometer os erros apontados pela Aeronáutica. “Pode até ser, mas falha humana é uma conclusão simplista”, opinou França.
O PSB contratou um técnico em acidentes aeronáuticos para acompanhar as investigações do acidente e avaliar o resultado da apuração oficial. O partido vai pedir acesso ao relatório da Aeronáutica, mas aguardará a conclusão do inquérito para se posicionar oficialmente. “Como morto não fala, tudo o que se imputar a quem morreu pode resolver para alguém, mas para nós não resolve”, emendou Albuquerque.
Procurada, a candidata derrotada à Presidência da República Marina Silva não se pronunciou sobre o tema. A assessoria da ex-senadora alegou que ela não tem conhecimentos técnicos sobre o assunto para se manifestar. Já o porta-voz da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido, que na época do acidente era um dos coordenadores da campanha, disse que o grupo espera por um posicionamento oficial da Aeronáutica sobre o que causou a queda do avião.
Nos bastidores, os pessebistas dizem que querem explicações para o não funcionamento da caixa-preta de voz, para o fato da mala de Eduardo Campos ser recuperada intacta dos destroços e de, até o momento, não se saber se alguém estranho à equipe de campanha teve acesso à aeronave antes do trágico voo. Na época do acidente, militantes e simpatizantes do então candidato à presidência da República acreditavam que Campos tinha sido vítima de um “atentado” político.
Prestação de contas
O acidente aconteceu durante a campanha presidencial, quando Campos se deslocava do Rio de Janeiro para um compromisso em Santos. Logo após a tragédia, foram levantadas dúvidas sobre a propriedade do jato Cessna Citation e suspeitas de que a aeronave teria sido paga com dinheiro de caixa 2. Três empresários de Pernambuco ligados ao presidenciável se apresentaram como compradores do jatinho.
O PSB chegou a informar que os valores pelo uso do jatinho seriam lançados na prestação de contas da campanha, o que não ocorreu. Segundo França, que assumiu a tesouraria da campanha de Marina, para lançar o uso da aeronave na prestação de contas final seria necessário calcular os gastos com base nas horas voadas, mas os documentos se perderam no acidente. Ele informou que o PSB pediu à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) um levantamento sobre a quantidade de horas voadas pelo Cessna, mas não obteve resposta.