A produção de leite no Brasil deve cair 2% no segundo semestre de 2015 e 1% nos seis primeiros meses de 2016, em comparativos anuais, prevê o Rabobank. O cálculo considera uma rentabilidade comprimida pelos custos com a ração animal e a inflação, levando produtores a reduzir a captação. Além disso, os preços do leite devem ceder nos próximos meses, em movimento sazonal, o que diminui as margens da atividade. No segundo trimestre de 2015, o Rabobank nota que a produção já caiu 2,6%.
“A compressão de margens reflete a ampla disponibilidade de leite no Brasil, dado o excesso de oferta global e as fracas vendas domésticas”, escreve o analista Andres Padilla, em relatório trimestral sobre a commodity. A demanda por leite tem se desacelerado ante o avanço do desemprego e a queda na renda real no País. De acordo com o Rabobank, o consumo cresceu apenas 0,7% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2014.
O Rabobank afirma que a importação de leite do Brasil avançou no segundo trimestre do ano, apesar da desvalorização do real e da desaceleração da demanda interna. Já as exportações caíram no período. O déficit líquido de leite do País ficou em 180 milhões de litros no período e deve permanecer perto deste patamar pelo próximo ano. Historicamente, o Brasil importa leite em pó de países que são mais competitivos que os produtores nacionais.
Mercado global
Os fundamentos do mercado internacional de lácteos ainda não sofreram alterações que expliquem a recuperação dos preços verificada em setembro, na opinião do Rabobank. No relatório, analistas ponderam que a alta se deve à noção dos investidores de que os laticínios se desvalorizaram muito nos últimos meses e que perspectivas devem melhorar na primeira metade do ano que vem. A indústria vem cortando valores pagos aos produtores, o que deve limitar a oferta no futuro, ao passo que preços menores ao consumidor final devem resultar em melhora na demanda.
“Mas antes que isso dispare uma recuperação substancial de preços, o mundo primeiro precisará consumir a notória montanha de leite (sobretudo em pó) que se acumulou durante o declínio do mercado”, ressalvam os analistas do banco. A instituição financeira estima que os estoques nas principais regiões comerciais podem somar mais de cinco milhões de toneladas, a maior parte deles em poder da iniciativa privada.
A recuperação dos preços também deve ser limitada pelo avanço do dólar, moeda em que os produtos são cotados, e pela menor participação da China no mercado. Os importadores chineses são os que pagam mais pelos produtos lácteos, de modo que outros países podem não aceitar preços tão elevados. O Rabobank também afirma que o pessimismo em relação à China pode ser exacerbado. O banco afirma que o varejo tem apresentado bons resultados apesar da desaceleração econômica e que a desvalorização do yuan é modesta.
Segundo os analistas, o consumo interno do país parece ter melhorado nos primeiros seis meses deste ano. Na União Europeia, responsável por um quinto do consumo global de lácteos, o Rabobank nota que a economia tem avançado a ponto de reduzir o desemprego, embora a recuperação ainda seja desigual. Nos Estados Unidos, que representam 15% do mercado consumidor, as condições econômicas também estão melhores.