Economia

Masp, um museu com estrutura de empresa

O projeto de resgate do Museu de Arte de São Paulo (Masp) começou no fim do ano passado, quando a então presidente do museu, Beatriz Pimenta Camargo, procurou Alfredo Egydio Setubal, do Itaú, para buscar alternativas para a instituição. O banqueiro, que já conhecia o trabalho de Heitor Martins, sócio da consultoria McKinsey, à frente da Bienal de São Paulo, chamou o executivo para debater o tema. Martins, por sua vez, pediu ajuda a Alexandre Bertoldi, sócio do escritório Pinheiro Neto, para estruturar as mudanças.

Entre o fim de março e junho, Bertoldi se dedicou a fazer as reformas estatutárias e de governança do museu, elaboradas com base nas melhores práticas de instituições internacionais privadas, como o MoMA, Lincoln Center e Metropolitan.

“O que a gente está vendo é um processo de transição de um modelo que nasceu a partir de um mecenas (patrocinador das artes) para um modelo institucionalizado de governança. Esse processo está em curso e não é feito de forma linear e sem dores. A gestão no passado era muito personalista”, diz Martins. “Quando (o museu) foi criado, em 1947, Assis Chateaubriand (um dos seus fundadores e dono dos Diários Associados, império das comunicações à época) simplesmente ligava para as pessoas quando o museu precisava de dinheiro”, diz Martins. Hoje não funciona mais assim.

Foi preciso tratar o Masp não apenas como uma instituição cultural, mas como uma empresa com saúde financeira e gestão frágeis. Bertoldi lembra que há cerca de 20 anos o Masp tinha uma gestão muito mais próxima dos grandes museus do mundo do que atualmente. “Nesses últimos anos, o Masp foi ficando muito defasado. Era preciso uma renovação e oxigenação.”

Vozes

Antes das mudanças, o poder estava concentrado nas mãos dos associados – cerca de 50 pessoas. Isso, segundo Bertoldi, criava uma barreira para a renovação. Com a mudança estatutária, foi criado um conselho deliberativo que passou a dar aos conselheiros o poder de voto em paridade de condições dos associados. “As decisões agora vão à assembleia e votam em igual poder associados e conselheiros.”

As reformas contaram com o apoio da antiga gestora. Beatriz, hoje à frente do conselho de administração do museu, disse ao Estado que foi em busca de parceiros porque o Masp estava com problemas. Ter o apoio dos associados foi muito importante porque os novos conselheiros que passaram a fazer parte do museu estavam dispostas a fazer o aporte, mas perguntavam se todos iriam contribuir, lembra Martins.

“No início, as reuniões eram feitas na casa de um, de outro. Daí, fomos nos dividindo para convidarmos as pessoas para participarem desse processo”, diz Bertoldi. “Houve muita boa vontade de todos, que cederam tempo para se dedicar à causa.”

É o caso de Lucas Pessôa, ex-executivo do Pátria Investimentos e Pinheiro Neto, que procurou a nova gestão em junho para ser oferecer para trabalhar como voluntário. “Sempre quis trabalhar com artes. Ao saber das mudanças, me ofereci para participar do projeto”, diz Pessôa, que desde setembro é diretor de operações do museu.

Os problemas do Masp ainda não foram resolvidos com a doação dos R$ 15 milhões. Com R$ 3 milhões agora em caixa, a nova diretoria está em busca de novos recursos, com o apoio da iniciativa privada e também do governo federal, por meio da Lei Rouanet (voltada para políticas públicas culturais).

Precisa ser profissional para fazer um funding raising (captação de recursos). Tem De contatar um grande número de empresas, patrocínios. Tem que fazer apresentação. Não é mais pegar o telefone (em referência ao modus operandi de Assis Chateaubriand)”, diz Bertoldi.

No dia 10 de dezembro, a nova gestão volta a se reunir com associados, patronos e conselheiros para discutir próximos passos da instituição.

Ambição artística

A proposta do novo grupo, que contratou Adriano Pedrosa (com larga experiência em bienais dentro e fora do país e curadorias de museus internacionais) como diretor artístico, é inovar. “A mudança fundamental foi na questão curatorial. Muitos museus aqui e lá fora querem gastar dinheiro com infraestrutura. Poucos gastam com pensamento. Muitos se preocupam com a carcaça e projeto de criação tende a ser terceirizado”, diz Heitor Martins. “Por isso, decidimos por um diretor artístico, não um curador.”

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Adriano Pedrosa disse que está organizando o Masp para um programa ambicioso de exposições em 2015. “A primeira etapa será com acervos próprios, para depois trazer de terceiros.” Além disso, serão resgatados os cavaletes de Lina Bo Bard, uma ideia considerada transgressora que revolucionou a maneira de expor as obras. O centenário de Lina Bo Bardi já tem data para ser comemorado: agosto de 2015, no salão principal do Masp.

O museu também vai fazer um resgate de obras indígenas e moda vestuário brasileiro. Segundo ele, outro projeto será expor pela primeira vez o arquivo documental das obras que pertencem ao Masp. “Vamos resgatar a história dessas obras, desde sua chegada ao Brasil.”

Referência global

Assim como pretende trazer obras de fora para futuras exposições, o Masp também passará a emprestar mais seu acervo para museus de ponta fora do País. “O Metropolitan está fazendo uma exposição sobre Madame Cézanne (do pintor Paul Cézanne). O Masp tem um dos cinco retratos que ele pintou dela. Quando dissemos que iríamos emprestar a obra, eles se emocionaram”, diz Martins. Assim como O Retrato de Madame Cézanne, outras obras do Masp poderão circular no mundo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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