Tem de tudo um pouco. O grupo de empresários e executivos de alto escalão que nos últimos meses engendrou uma operação para salvar o Museu de Arte de São Paulo (Masp) reúne de grandes gestores de fundos a usineiros, de banqueiros a varejistas. Amantes da arte ou não, desde junho eles levantaram, juntos, R$ 15 milhões para resgatar o museu privado, em uma das maiores captações da história do País feitas a partir de doações na pessoa física para preservar um patrimônio cultural.
Na lista de 83 pessoas capitaneada por Heitor Martins, sócio da consultoria McKinsey e ex-presidente da Bienal São Paulo, e Alexandre Bertoldi, sócio do Pinheiro Neto Advogados, responsáveis por estruturar a operação, há nomes como Alfredo Setúbal, herdeiro e vice-presidente do Banco Itaú, Flávio Rocha, presidente da rede de moda Riachuelo, e Alain Belda, sócio-presidente para a América Latina do fundo Warburg Pincus.
Ao lado deles aparecem também o investidor Luis Stuhlberger, Fersen Lambranho e Antonio Bonchristiano, sócios da gestora GP Investments, e Marcelo Martins, vice-presidente de finanças e relações com o mercado do grupo Cosan. “Tinha ideia de que o museu enfrentava problemas financeiros, mas não sabia o tamanho do problema. Senti-me motivado a ajudar”, afirmou o executivo ao jornal O Estado de S. Paulo.
Patrice Etlin, presidente do fundo de investimento americano Advent na América Latina, explica que sua motivação foi além do seu gosto por artes plásticas. “O Masp é mais do que um patrimônio de São Paulo e, quando fui procurado para colaborar, percebi que havia uma diretoria engajada, com um plano sério de gestão, levando um conceito de empresa para dentro do contexto cultural”, explica.
Com um rombo de quase R$ 12 milhões, o Masp – dono de um acervo estimado entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões, considerado a maior coleção de arte do Hemisfério Sul – enfrentava nos últimos anos problemas financeiros e de gestão. Os recursos ajudaram a sanar passivos e a dar fôlego para enfrentar os desafios nos próximos meses. Do total da dívida, um quarto era trabalhista, outra igual parte tributária e o restante dividido entre bancos e fornecedores. “A arrecadação, em média, foi de R$ 100 mil por pessoa, entre novos conselheiros, patronos, associados e diretores”, diz Heitor Martins, no comando do museu desde setembro.
Transparência
As doações, contudo, foram condicionadas à transparência corporativa da nova gestão. “Mesmo uma organização sem fins lucrativos não prescinde de boa gestão”, diz Antonio Quintella, presidente da gestora de investimentos Península, que também está entre os doadores. Admirador de música, arquitetura e artes plásticas, Quintella faz a afirmação com conhecimento de causa: o investidor faz parte de vários conselhos de instituições culturais, entre elas a Filarmônica de Nova York e a Orquestra Sinfônica de São Paulo.
Todos os doadores são membros agora do novo conselho deliberativo do museu, hoje composto por 83 nomes, 90% dos quais convidados a integrar a equipe nesses últimos meses por Martins, atual presidente, e pelos diretores estatutários – Alberto Fernandes (Itaú BBA), Flavia Velloso (Benchmark Investimentos), Jackson Schneider (Embraer), Nilo Cecco (Valuation Consultoria) e Miguel Chaia (professor da PUC-SP), além de Alexandre Bertoldi.
O banqueiro José Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil e um dos maiores investidores de artes plásticas do País, está também entre os “novatos” do conselho. Ele diz, porém, que não participa ativamente da gestão porque já está envolvido com várias iniciativas ligadas à arte – ele preside o conselho de administração da Pinacoteca de São Paulo.
“Minha relação com o Masp é emotiva”, diz João Carlos Figueiredo Ferraz, ex-usineiro que hoje administra o Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto (SP), que reúne obras de seu acervo particular de arte. “Lembro de visitar as obras na avenida Paulista ainda adolescente entre 1966 e 1967 com meu pai (José Carlos Figueiredo Ferraz, engenheiro responsável por tocar o projeto de Lina Bo Bardi, e prefeito de São Paulo de 1971 a 1973).” Ferraz foi à inauguração do Masp, em 1968. O evento teve a presença da rainha Elizabeth, da Inglaterra.
Mas o prédio suspenso da Avenida Paulista, que virou cartão-postal da capital, suscita mais do que memórias. “Assim como a Riachuelo populariza a moda, o Masp tem de cumprir seu papel popularizar a arte”, diz Flavio Rocha, da Riachuelo. Para Maurílio Biagi Filho, que tem participação em usinas e empresas, a doação foi feita por amor a São Paulo. “Particularmente, não entendo de arte.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.