Opinião

Mentiras, traição ao eleitor e Prefeitura quebrada

Bastaram 30 dias. Neste período de um mês desde que o prefeito Sebastião Almeida (PT) venceu as eleições municipais em segundo turno e conquistou o direito de permanecer no cargo por mais quatro anos, vieram à tona pelo menos quatro episódios que confirmam que a campanha à reeleição foi baseada na distorção da verdade. Em outras palavras. Em mentiras.


Não se trata aqui de especulações. São fatos. Nem as urnas esfriaram e o senhor prefeito encaminhou à Câmara projeto de lei para reajustar o IPTU em 60% já a partir de 2013. O argumento: os aumentos se baseiam na Planta Genérica de Valores – os valores venais dos imóveis – que não era reajustada há tempos. Ou seja, o governo municipal deixou chegar no limite para lançar de uma só vez o golpe mortal nos contribuintes.


Fosse uma cidade séria com agentes públicos interessados em proteger o cidadão, tanto Almeida como seus assistentes diretos deveriam ser citados por má gestão do dinheiro público. Afinal, deixaram a Planta Genérica de Valores defasada. Neste período, o município perdeu. Lógica eleitoral: se reajustasse antes, pegaria mal para a campanha à reeleição.


Segundo episódio: durante toda a campanha, Almeida pregou aos quatro cantos que Guarulhos já tinha 35% de seu esgoto tratado, como se isso fosse uma grande conquista, assim merecendo o voto dos eleitores. Por mais que a oposição frisasse tratar-se de mais uma falácia, prevaleceu a inverdade. Semana passada, durante audiência pública sobre o orçamento de 2013, o próprio presidente do Saae declarou que Guarulhos não trata seu esgoto ainda neste número. No nível das promessas, os 35% devem ser alcançados apenas até o final do ano que vem.


Também não é novidade que Guarulhos anda mal das pernas no campo das finanças. Em diversas ocasiões, fornecedores da Prefeitura ficam meses sem receber pelos serviços prestados ou contratados. Nesta semana, nas audiências públicas da Câmara, foi o presidente da Proguaru que entregou o jogo. Como o município está sem caixa, a autarquia responsável por prestar diversos serviços à municipalidade, terá 40% a menos no orçamento de 2013, o que certamente implicará no corte de gastos. Menos obras. Menos benefícios à população.


Para fechar a conta, mais uma do prefeito reeleito ainda sob o calor da reeleição. No fim da tarde de sexta-feira, na surdina, enviou projeto de lei à Câmara Municipal que, em outras palavras, entrega o serviço de saneamento básico à iniciativa privada. Seria a privatização do Saae, tão condenada pelo PT que agora deve passar com o crivo dos vereadores compromissados com o governo municipal. Uma vergonha. Não que o projeto seja ruim. Mas é exatamente tudo que o partido do poder sempre combateu. Aliás, durante a campanha, para tirar votos do adversário, pregava que o candidato do PSDB iria privatizar o Saae.


Nas entrelinhas deste projeto, mais uma revelação. Almeida deixa claro que a PPP é a única forma do município cumprir o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público que prevê 100% do esgoto tratado até 2017. Ele frisa que Guarulhos não tem de onde tirar recursos para investir nesta área considerada prioritária. Ou seja, a Prefeitura, por diversos fatores, incluindo a má gestão de um orçamento anual de R$ 3 bilhões, está quebrada.


Por essas e outras, o eleitor guarulhense que deu mais quatro anos de fôlego a esse governo já deve se preparar para pagar caro por ter sido enganado. Provavelmente, em meio às festas de fim de ano, as tarifas do transporte público devem ser majoradas. E o reajuste não deve ser pequeno. Afinal, a hora é de dar fôlego a quem bancou a reeleição. Já que o povo não tem memória, o aumento agora logo será esquecido. A história mostra isso. Uma pena.

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