O ex-presidente do Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, após passar mais de um ano lutando contra um câncer de esôfago. Conhecido mundialmente por seu estilo de vida simples, Mujica ocupou a Presidência do Uruguai entre 2010 e 2015. O seu falecimento foi confirmado pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, visto como um dos herdeiros de Mujica.
“É com profundo pesar que anunciamos a morte de nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi.
Natural de Montevidéu, Mujica nasceu em 1935 em uma família de pequenos produtores rurais. Sua trajetória política começou de forma intensa: ainda jovem, integrou a guerrilha dos Tupamaros, movimento armado de inspiração marxista. Foi preso diversas vezes durante a ditadura militar uruguaia, ficando mais de uma década encarcerado, parte desse tempo em isolamento absoluto.
Com a redemocratização do Uruguai, Mujica entrou para a vida institucional. Foi eleito deputado e depois senador. Em 2005, assumiu o Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, no governo de Tabaré Vázquez. Em 2010, chegou à Presidência pelo partido Frente Ampla, com uma plataforma progressista que unia combate à pobreza, desenvolvimento rural e legalização de temas polêmicos, como o aborto e a maconha.
Figura emblemática da chamada “onda rosa” da esquerda latino-americana, Mujica se destacou entre seus pares por colocar pautas ambientalistas no centro de seu governo, em um período em que o tema ainda tinha pouca adesão entre líderes progressistas da região. Seu apelo por uma vida menos consumista e mais conectada à preservação ambiental ganhou notoriedade internacional após discurso na Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável realizada no Brasil, em 2012.
“Não viemos ao mundo para desenvolver o consumo, mas para viver com dignidade”, disse, na ocasião, ao criticar a lógica de mercado que impõe a necessidade de “ter o carro mais novo, o celular mais novo, o rádio mais novo”.
Mesmo no cargo mais alto do país, recusou regalias. Nunca viveu no palácio presidencial e preferiu permanecer em sua chácara em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu, onde morava com a esposa, a também senadora Lucía Topolansky. Doava a maior parte do salário a programas sociais e era visto com frequência dirigindo seu Fusca azul – que se tornou símbolo de sua figura pública.