Opinião

Morte anunciada de mais uma favela

O incêndio que destruiu quase quatro dezenas de barracos na Favela Hatsuta só não foi pior porque atingiu o lado da comunidade que margeia uma grande indústria. De forma rápida, os brigadistas da empresa química foram fundamentais para eliminar as chamas, evitando que o fogo tomasse conta de todo o conglomerado urbano. O trabalho foi complementado pelo Corpo de Bombeiros, que chegou rapidamente ao local, acabando com o incêndio. Felizmente, nenhum morto ou ferido.


Por mais lamentável que tenha sido, o incêndio não é o que mais chama a atenção neste fato. Destaque-se que a tragédia era mais do que anunciada naquele local. Além dos barracos que se enfileiram há cerca de duas décadas numa “terra de ninguém”, como é comum neste tipo de comunidade, as ligações elétricas são demasiadamente precárias, assim como a qualidade de vida de seus moradores. Mas, apesar de todas as notícias, ações da própria comunidade e interferências da sociedade exigindo soluções, muito pouco – ou quase nada – foi feito para evitar o fogo.


Havia sim um protocolo de intenções, por parte da Prefeitura, de destinar alguns empreendimentos do Minha Casa Minha Vida, construídos a dezenas de quilômetros dali, para os moradores saírem de lá. Mesmo assim, sem muita definição. Fora isso, há diversas ações na Justiça, conforme o HOJE publicou recentemente, de famílias que já requerem o direito de usocapião da área. A própria definição dos verdadeiros proprietários, devido ao processo de falência da fábrica que deu origem ao nome da favela, é uma incógnita. Ninguém, de fato, assume ser o pai da criança.


Da sua parte, a Secretaria Municipal de Habitação que poderia – em tempo hábil – propor uma solução definitiva para aqueles moradores nunca demonstrou a energia e, talvez, vontade necessárias para dar um destino digno àquelas famílias.


Agora, depois do leite derramado, passa da hora de dar um fim – em caráter de urgência – àquela comunidade, priorizando a transferência daqueles moradores para empreendimentos populares em construção. Primeiro de tudo precisa achar um lugar decente para quem perdeu tudo. Em seguida, promover a transferência dos demais, sem permitir que a favela seja reconstruída ali.

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