O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-RJ), disse na manhã desta quinta-feira, 20, que não mudará a programação das investigações por conta da possível denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “A CPI não pode mudar seu rito porque a denúncia foi feita hoje”, afirmou.
A sessão dessa manhã tem sido marcada por bate-boca entre os membros por conta do andamento dos trabalhos e das acusações de que há blindagem na comissão.
Motta rebateu a afirmação do deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) de que a CPI será acusada de prevaricação por não avançar nas investigações do esquema de corrupção na Petrobras e não trazer na comissão os principais personagens da Operação Lava Jato. “Não admito que se diga que a CPI está prevaricando. Estamos imunes a esse tipo de provocação”, disse.
Diante da resposta, Altineu recuou. “Talvez tenha feito essa colocação de forma equivocada, talvez eu tenha agido no calor das emoções”, declarou o deputado do PR.
O clima na comissão esquentou quando o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) insistiu para que a CPI ouça mais uma vez Cunha. “Não é mais possível fazer cara de paisagem ao que está acontecendo”, enfatizou. “Toda sessão é essa mesma lenga-lenga”, ironizou o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ).
Motta afirmou que a agenda da comissão não pode ser feita ao “bel prazer” de Valente. “A pauta do CPI não pode ser para Vossa Excelência um instrumento de prazer”, disse. O presidente da CPI anunciou ida dos membros a Curitiba no dia 31 deste mês para ouvir os investigados presos e uma agenda de viagens ao Canadá e Estados Unidos.
O líder do PSC, André Moura (SE), alfinetou Valente e disse que se o colega tem vergonha da CPI, deveria deixar os trabalhos. “O senhor é um falso paladino da moralidade. O senhor quer aparecer, quer mídia, deveria estar no picadeiro, que é seu lugar”.
Apesar de Moura ser um dos principais aliados de Cunha, coube ao deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) reclamar da tentativa de precipitação da condenação do peemedebista. “Ivan Valente parece um disco arranhado”, atacou.
Carlos Marun (PMDB-MS) também saiu em defesa do presidente da Câmara e reclamou das manifestações que pedem o “Fora Cunha”. “O (Alberto) Youssef citou Cunha, mas também citou a presidente Dilma Rousseff”, observou.
Apenas a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) concordou com as reclamações de Valente, que critica a falta de foco nos trabalhos da comissão. “A CPI não tem feito o que está no seu objeto principal. Estamos remando no marasmo”, concluiu.
“Lição de casa”
Toda a discussão ocorreu durante o depoimento do doleiro Raul Srour. Mesmo contemplado com um habeas corpus que lhe dá o direito a ficar calado, o doleiro se irritou com os membros da CPI da Petrobras ao ser questionado sobre seu envolvimento em outros escândalos, como o caso Banestado.
“Pelo jeito vocês não leram nada. Não tenho nada a ver com o Banestado. Não sei se é maldade ou falta de aplicação da lição de casa”, provocou ao responder ao deputado Altineu Côrtes. “Se tem bandido aqui é o senhor, eu fiz minha lição de casa”, rebateu o parlamentar.