Quando a Polícia Federal (PF) começou a investigar ações suspeitas de fiscais do ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), ela tinha como meta identificar se havia uma esquema de corrupção entre servidores públicos e empresas do setor de frigoríficos.
Ao grampear os telefones do suspeitos veio a surpresa: muitos dos diálogos narravam incidentes como contaminação de carnes, deficiências na refrigeração dos produtos, adulteração de mercadorias. Cada empresa era uma realidade diferente.
A maior parte dos crimes que podem ter alguma relação com riscos à saúde pública não chegou a ser investigada em profundidade na Operação Carne Fraca. No entanto, as conclusões dos investigadores estão descritas em detalhes nos autos do processo.
A PF pediu busca e apreensão em 56 empresas e órgão públicos, 37 do setor de alimentos. Mas uma análise do que foi apurado das 21 empresas que tiveram suspensas as certificações para exportação dá uma ideia da enorme diversidade de problemas que foram identificados.
Diversidade
Dos 21 frigoríficos, cinco são acusados apenas de prática de corrupção, sendo que, no caso de dois deles, os grampos indicam que funcionários e proprietários das empresas foram achacados para pagar propina. Eles chegaram a se queixar com os superiores dos fiscais, mas como as denúncias não deram em nada, acabam por aderir ao esquema.
Em três empresas, as investigações apontam que não havia efetiva fiscalização: os funcionários das unidades produtoras preenchiam certificados sanitários e outros documentos e os fiscais apenas assinavam. Vários são os relatos de que os papéis eram levados até a casa dos fiscais para serem assinados.
Há indícios também de que quatro empresas adulteraram documentos enviados ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) sobre a composição de produtos. Entre eles estavam salsichas que foram encomendados para atender uma licitação pública para escolas.
Os dois casos mais graves são de fraudes na formulação dos produtos alimentícios, como substituição de carne por outros produtos para enganar a fiscalização; carnes sem rotulagem, sem refrigeração; utilização de carnes estragadas para produzir embutidos, como salsichas e linguiça e falsificação de análises de laboratório dos produtos adulterados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.