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Pesquisa de brasileiros permitirá estudar zika em camundongos

Um novo estudo feito por cientistas brasileiros mostra pela primeira vez, em experimentos com animais, que a linhagem do vírus zika presente no Brasil atravessa a placenta da mãe infectada, atinge o cérebro dos fetos e provoca diversos problemas de crescimento, incluindo a microcefalia. A pesquisa comprova de uma vez por todas que o vírus é mesmo a causa das más-formações registradas durante a epidemia de zika no Brasil e, mais que isso, apresenta o primeiro modelo eficiente que permite estudar diversos aspectos da ação do vírus zika em camundongos.

A ausência de modelos animais para estudos experimentais era considerada um dos maiores desafios para a comunidade científica mundial envolvida na corrida para compreender e vencer o vírus.

O novo estudo foi feito por cientistas ligados à Rede Zika – uma força-tarefa criada por cientistas paulistas para combater a epidemia – e publicado nesta terça-feira, 11, na revista científica Nature. Os autores afirmam que a possibilidade de estudar os diversos aspectos da doença em animais será crucial para o desenvolvimento de terapias e tratamentos.

Na mesma pesquisa, os cientistas também utilizaram organoides cerebrais – popularmente conhecidos como minicérebros – para mostrar como o vírus zika infecta as células-tronco do cérebro, induzindo-as à morte celular e impedindo o desenvolvimento normal do cérebro.

“O estudo com os modelos de camundongos dá uma resposta definitiva, de maneira canônica, com alto grau de certeza científica, que o zika causa mesmo a microcefalia. Não há mais qualquer dúvida sobre isso”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o coordenador da Rede Zika, Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).

Outra conclusão importante do estudo, obtida a partir dos testes com os organoides cerebrais, é que a linhagem brasileira do vírus parece ser mais agressiva do que a linhagem africana, que originalmente infectava macacos.

O estudo foi realizado por Jean Pierre Peron, Patricia Beltrão Braga – ambos pesquisadores do ICB-USP – e Alysson Muotri, pesquisador na Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos.

Os cientistas isolaram amostras do vírus obtidas na Paraíba e introduziram em dois tipos de camundongos. Os filhotes dos animais infectados, que foram analisados de várias formas após o nascimento, apresentavam atraso no desenvolvimento do corpo e a presença do vírus em diversos tecidos. Os pesquisadores, no entanto, observaram que o vírus é atraído em maior quantidade para o tecido cerebral. “Cada vez mais os estudos estão mostrando que a microcefalia é apenas a ponta do iceberg entre os problemas causados pelo vírus zika. Nós observamos diversos tipos de restrições do crescimento”, afirmou Patricia.

Em um dos tipos de camundongos testados, o vírus consegue atravessar a placenta e atingir o feto, que nasce com os defeitos congênitos. O outro tipo apresenta uma resposta imunológica muito forte, o vírus não consegue atravessar a placenta e os filhotes nascem normais. “Isso sugere que a condição imunológica do paciente pode ter um papel importante no desenvolvimento dos defeitos congênitos. Talvez isso seja uma pista para compreendermos por que algumas mães humanas parecem ser mais suscetíveis ao problema”, explicou Perón.

A principal lesão observada no cérebro dos filhotes de camundongos infectados é a redução da espessura do córtex, a camada mais externa do cérebro. Segundo os cientistas, a característica também foi observada em bebês humanos.

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