Brasileiros desconfiam do governo, mas estão entre os mais dispostos a ser vacinados contra a covid-19, segundo a pesquisa Edelman Trust Barometer, realizada anualmente em 28 países pela Edelman, agência global de comunicação. No Brasil, 76% dos entrevistados indicaram a intenção de tomar a vacina dentro de um ano, a partir do início do processo, e 48%, tão cedo quanto possível. Só na Índia foi encontrada uma parcela maior de pessoas inclinadas a se vacinar, 80% em um ano e 51% assim que houver oportunidade.
Graus muito maiores de hesitação foram encontrados em países avançados, como Itália, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Japão e França. Na Rússia, onde um imunizante foi aprovado muito rapidamente, só 40% mostraram interesse em receber a injeção neste ano.
Confusão, desorientação, desinformação e desconfiança em relação a governos, políticos, meios de comunicação, organizações não governamentais e empresas dominam o cenário na maior parte dos países cobertos pela pesquisa. Neste ano as empresas surgiram como as instituições mais confiáveis, com 61% de avaliações positivas, tomando o lugar dos governos (53%). "Esta é a era da falência da informação", disse Richard Edelman, CEO da empresa. "A violenta invasão do Capitólio, na semana retrasada, e o fato de apenas um terço da população do país estar disposto a tomar o quanto antes a vacina contra covid deixam claros os perigos da desinformação."
Mas apenas um quarto dos entrevistados (26%) em toda a pesquisa pratica a "higiene de informação", interessando-se pelas notícias, verificando os dados, fugindo das bolhas e evitando repassar informações sem checá-las. Só 59% dos praticantes da "má higiene" disseram-se dispostos a tomar a vacina contra a covid no primeiro ano de aplicação. Entre as pessoas com "boa higiene" da informação 70% deram a resposta positiva.
Brasileiros e americanos aparecem muito próximos, com posições quase iguais quando se trata de confiança no governo e nos meios de comunicação. Em 13 de 27 países as pessoas desconfiam dos governos, com respostas positivas entre 24% e 48%. Em seis o cenário é neutro, com taxas entre 50% e 59%. Em nove países as pessoas se disseram claramente confiantes, na faixa de 61% a 82%.
No Brasil 39% afirmaram confiar – uma porcentagem dois pontos maior que a do ano anterior. Nos Estados Unidos a taxa aumentou três pontos em um ano, para 42%. Os três países com governos mais confiáveis, de acordo com os consultados, são os Emirados Árabes Unidos (80%), a China (82%) e a Arábia Saudita (82%). Os placares foram neutros ou negativos na maior parte das democracias de estilo ocidental.
A mídia da maior parte dos países considerados democráticos também teve pontuação neutra ou negativa. Enquanto os meios de comunicação da Arábia Saudita (60%), da China (70%) e da Indonésia (72%) aparecem na parte superior da classificação, os da maior parte dos países democráticos ocupam as faixas menos nobres. Na faixa neutra estão sete países. Treze estão na faixa da desconfiança, incluídos Brasil e Estados Unidos.
<b>Notícias.</b> Também nesse tópico brasileiros e americanos ficaram muito próximos. No Brasil, 48% disseram confiar na mídia. Nos Estados Unidos, situados na posição vizinha, 45% expressaram opinião positiva. No primeiro caso, houve aumento de 4 pontos em relação ao ano anterior. No segundo, redução de 3 pontos. Os números evoluíram como se tivesse havido, no Brasil, um ligeiro movimento na direção contrária ao bolsonarismo e, nos Estados Unidos, uma pequena adesão ao trumpismo.
As declarações de confiança na imprensa foram bem menores em democracias como Espanha (42%), Reino Unido (37%), França (37%) e Japão (36%). Na Rússia apenas 29% disseram confiar na mídia. Foi a menor porcentagem. No conjunto, no entanto, a confiança na mídia tradicional ainda ficou em 51%, taxa bem superior à das redes sociais (35%). Essa diferença tem algo a ver com a distinção entre os praticantes da "boa higiene" e da "má higiene" da informação e, muito provavelmente, com a maior inclinação dos "higiênicos" a aceitar a vacinação.
A confiança na mídia também é uma das diferenças importantes entre eleitores de John Biden e de Donald Trump. Entre os primeiros, 57% disseram confiar nos meios de comunicação tradicionais. Só 18% dos trumpistas deram resposta positiva. Esses dados são de uma consulta realizada em dezembro, pouco depois da eleição.
Com a pandemia, cresceram inquietações e desconfiança e, ao mesmo tempo, mudaram as prioridades. No topo, sem surpresa, ficou a melhora dos sistemas de saúde, seguida pelo combate à pobreza.
Realizada desde 2001, a pesquisa Edelman Trust Barometer tem sido normalmente apresentada em Davos, na semana de reunião do Fórum Econômico Mundial. Desta vez a apresentação ocorreu pouco mais cedo, por meio virtual.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>