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Pompeia usa sapos para caçar mosquitos

Enquanto moradores de diversos bairros da zona oeste de São Paulo estão em pânico catando dezenas de pernilongos toda noite desde o início do verão, uma pequena vizinhança na Pompeia olha o movimento com curiosidade. Em vez de desesperados por fumacês, os moradores se mobilizaram para garantir um controle próprio dos mosquitos, com a ajuda da natureza.

O cenário é a Praça Romero Silva – rebatizada há alguns anos como Praça da Nascente, depois que os vizinhos encamparam a revitalização do espaço que reúne oito nascentes do riacho Água Preta. Ali, dois lagos criados para receber tanta água contam desde o fim do ano passado com todo um ecossistema de animais e plantas aquáticas que estão controlando as larvas de pernilongos e Aedes.

“Sapinhos, peixinhos, insetos, camarões e caranguejos foram inseridos para recriar um micro-hábitat em equilíbrio que trouxesse à natureza predadores para os mosquitos”, diz o biólogo Sandro Von Matter, que voluntariamente fez o trabalho de introdução das espécies. Ele chegou à praça a convite da amiga Andrea Pesek, jardineira e ex-moradora da região e uma das ativistas do coletivo Ocupe e Abrace, que em 2013 iniciou o trabalho de recuperação do local.

“Isso aqui antes era um charco cheio de lixo, mosquitos, moscas, ratos. As nascentes tentavam correr, mas não conseguiam. Então fizemos os lagos. E logo colocamos peixes, para lidar com os mosquitos”, conta Andrea.

No princípio, foram colocados peixes “barrigudinhos” (também conhecidos como guppy ou lebiste), mas logo outras pessoas foram trazendo outros peixes, alguns sapos cururu aportaram por lá, e as larvas dos mosquitos começaram a desaparecer. No final de 2016, porém, os girinos atingiram uma quantidade preocupante e ela notou que o ambiente poderia estar em desequilíbrio. Andrea então pediu a ajuda de Von Matter, pesquisador do Instituto Passarinhar e especialista em restauração de ecossistemas, que já trabalhava com projetos de recuperação da natureza nativa em praças urbanas.

O problema é que não basta devolver só uma espécie à área, porque ela que pode proliferar demais. “É importante reconstruir os links entre as espécies que são nativas dos ambientes. O que busquei foi recriar o ambiente como se fosse natural.”

Assim, caranguejos e camarões, que comem o girino, foram colocados para impedir que a população de sapos explodisse. Os anfíbios são importantes porque pegam o mosquito no ar, mas os girinos têm um papel interessante também dentro da água ao comer fungos e algas, deixando o ambiente mais estável, por exemplo, para insetos da família Notonectidae – aqueles que andam sobre a água – e também se alimentam das larvas dos mosquitos.

O trabalho de introdução dessas novas espécies começou a ser feito há dois meses. Von Matter visita o local a cada 15 dias para medir quanto tem de cada animal nos lagos, para ver se não há nenhum novo desequilíbrio, e conta as larvas de mosquito. “Hoje posso dizer que o lago não tem mais nenhuma.”

Moradores aprovaram a intervenção. “No verão sempre tem algum mosquito, mas nada como isso aí que o pessoal dos outros bairros está reclamando”, diz a farmacêutica Arlene Saboia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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