Opinião

PROFESSORES DE DEUS

Coluna do jornalista Ernesto Zanon sobre uma prática que se dissemina com o avanço das redes sociais: formadores de opinião, principalmente jornalistas, que se consideram verdadeiros professores de Deus

Se tem uma coisa que me incomoda demais é ver pobres mortais, como eu, graças a um título conseguido numa faculdade de Jornalismo ou pelos anos de experiência exercendo a profissão, considerando-se – como se diz por aí – a última bolacha do pacote. Sim, o que mais se encontra por aí são esses tipos que, por serem elevados à casta dos formadores de opinião, acham saber tudo e, por isso, estão acima de qualquer coisa.

Com o advento das redes sociais, esses tipinhos se proliferaram. Com a premissa de que podem livremente expressar suas opiniões pessoais – e podem mesmo, isso não se discute – , eles passaram a dar seus pitacos sobre tudo o que ocorre a sua volta. Entendem que o que postam nas redes ou falam por aí são verdades incontestáveis. Alguns, inclusive, se intitulam paladinos da moral, dos bons costumes e da justiça.

A partir disso, até pela desinformação geral que reina na sociedade, conquistam uma legião de seguidores que os endeusam, aumentando essa falsa sensação de que não resta mesmo no pacote outra bolacha. Ai de alguém que ouse ir contra suas verdades incontestáveis. São massacrados pelo novo deus e por seus fiéis. A gente cansa de ver esses exemplos que se espalham em nome da incontestável liberdade de opinião, que ainda nos rege, graças à luta daqueles que brigam para manter o estado democrático.

Com um pouco de experiência, não é difícil de identificar esses espécimes que, longe de estar em extinção, fazem escola. Alguns novatos, percebendo que podem um dia chegar lá, se vestem dessa falsa aura e começam a elevar-se aos céus. E, usando-se das mesmas táticas, começam a ditar usos e costumes. Tem uns por aí que se sentem no direito até de sugerir onde seus seguidores devem ou não ir. Quando enveredam para a política, então, ditam em quem deve-se confiar ou não. E por aí vai.

Como frise no início deste texto, não me incluo fora desta não. Como outros mortais, cometo meus deslizes e também pratico um pouco desses pecados. Afinal, a imperfeição é inerente ao ser humano. Mas uma coisa eu tenho convicção e posso até levar algumas porradas por causa disso: jornalista não é Deus. Muito menos professor do Altíssimo. 

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