A disputa societária envolvendo o Grupo Nippon e Ternium, subsidiária do grupo ítalo-argentino Techint, ganhou um novo capítulo na segunda-feira, 29. O pedido de liminar para reverter a destituição dos principais executivos da siderúrgica Usiminas, anunciada na sexta-feira, 26, foi negado ontem pela Justiça de Minas Gerais. A Ternium vai recorrer da decisão.
“Essa já é considerada a maior disputa societária do ano e vai ser decidida na Justiça, uma vez que não há menor clima para acordo”, disse uma fonte ao jornal O Estado de S. Paulo.
Paralelamente ao litígio, altos executivos da Nippon e Ternium deverão se encontrar no domingo, em Moscou, durante o “World Steel Association”, onde o assunto poderá ser debatido, segundo outras fontes. Ontem, as ações da Usiminas caíram 7,16%.
A percepção do mercado é de que as ações passarão por um período de forte pressão até que uma nova diretoria seja composta e que se encerre a briga. O BTG alterou em relatório sua recomendação para os papéis da companhia de compra para neutro.
Na noite de quinta, o presidente executivo da Usiminas, Julián Eguren, e os diretores Paolo Bassetti e Marcelo Chara – nomes de confiança do grupo Ternium – foram destituídos. O diretor vice-presidente de tecnologia e qualidade da siderúrgica, Rômel Erwin de Souza, ligado à Nippon, foi nomeado como substituto temporário de Eguren.
O grupo japonês é o maior acionista da empresa, com 29,45% do capital. O grupo T/T (Ternium, Siderar e TenarisConfab) tem 27,66% e a Previdência Usiminas (Caixa dos Empregados), 6,75%. O Ternium entrou no grupo de controle da empresa após investimento do grupo Techint, no fim de 2011, por R$ 5 bilhões.
A reunião que decidiu pela saída da alta cúpula da empresa foi tensa. O Grupo Nippon tem três membros no colegiado da siderúrgica, mesmo número da Ternium. A Previdência conta com um representante, assim como os empregados e os minoritários (Previ e Geração Futuro). De acordo com fontes, o representante dos empregados votou contra a destituição e o dos minoritários, a favor, gerando o empate. Paulo Penido, presidente do conselho de administração, que deu o voto de desempate para destituir os executivos, teria ligação com o Nippon, segundo fontes. “Houve uma violação no acordo de acionistas, o qual prevê que a decisão tem de ser por consenso”, disse uma fonte.
A saída do alto escalão da Usiminas envolve uma disputa interna de poder na companhia, na qual o grupo Nippon quer dar as cartas. Paulo Penido Marques, atual presidente do conselho de administração da Usiminas, foi cotado para assumir o lugar de Eguren, segundo fontes próximas à empresa. “O nome de Penido foi aventado, mas nada oficial”, disse uma fonte, descartando essa possibilidade.
Há alguns meses, a governança corporativa da companhia começou a ser questionada por Lírio Parisotto, um dos maiores investidores da Geração Futuro, e poderá ganhar coro dos minoritários.
A piora do relacionamento entre os dois principais acionistas se arrasta desde abril, quando venceu o mandato de Eguren e dos diretores. A Nippon, assim, reivindicava sua vez de indicar o diretor-presidente. O desfecho foi a destituição dos executivos. “A Nippon alegou que os executivos recebiam benefícios não combinados, o que não é verdade. Auditorias comprovaram isso”, disse uma fonte.
O mercado gostava da gestão de Eguren, que reduziu a alavancagem da companhia de 4 vezes, em 2012, para 1,7 vez o Ebtida no segundo trimestre. Procurados, Usiminas, Nippon e Techint não retornaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.