Bares com mesas vazias na calçada em tarde ensolarada, restaurantes sem fila de espera, placas de vende-se amarelando na porta de prédios, promoções nos salões de beleza. A desaceleração do setor de serviços é assim. Discreta e silenciosa, mas mais preocupante para a maioria da população porque a retração dos serviços coloca os problemas da economia mais perto das pessoas – na esquina, no vizinho, dentro de casa.
Um dos segmentos mais afetados é o de salões de beleza. Há poucos anos, proliferavam como prova de pujança. Hoje estão vazios. Lúcia Pagliato, proprietária de um salão na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, há três meses faz empréstimos no banco para pagar de salários de seus dez funcionários.”Foi a primeira vez que precisei fazer isso em 12 anos neste salão e 20 na região”, diz a empresária. Nos últimos meses, Lúcia viu pelo menos três salões e clínicas de estética fecharem.
“O movimento começou a cair na Copa, e de lá para cá piorou – está uns 60% inferior ao normal”, diz ela. Lúcia lançou mão de várias promoções para tentar atrair a clientela. Uma drenagem linfática que antes custava R$ 70, sai por R$35; de segunda a quarta, promoção para praticamente todos os serviços, como corte, escova e limpeza de pele. “Se eu reajustar preço, aí que eu fecho as portas.”
Conter aumentos, aliás, é uma prioridade. Nos condomínios residenciais, os proprietários, preocupados com uma possível alta de custos, se organizam até para acompanhar a negociação salarial de porteiros, zeladores e faxineiros. Pela primeira vez, segundo o diretor de relações institucionais da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios, Eduardo Zangari, está havendo uma mobilização para as administradoras de condomínio, em nome dos proprietários, participarem da assembleia que definirá o reajuste dos funcionários dos edifícios.
Antes apenas os sindicatos das duas categorias participavam. Os funcionários querem reajustes que podem chegar a 12% e as administradoras vão propor repor apenas a inflação medida pelo INPC, de 6,6%. A decisão afeta diretamente cerca de 150 mil porteiros, zeladores e faxineiros hoje empregados em condomínios apenas na cidade de São Paulo.
Micado
Jailson Alves, gerente da Mercearia do Francês, um restaurante para a alta renda em Higienópolis, em São Paulo, tem sua própria definição para 2014: “Foi um ano micado. De junho a agosto, só empatamos com os custos. Agora em setembro é que estamos vendo uma leve recuperação”.
Segundo Alves, o movimento tem sido 40% menor do que no ano passado e, na contramão, 90% dos fornecedores aumentaram os preços, sobretudo de carnes nobres e frutos do mar. Para não repassar a alta dos custos e perder mais clientes, a estratégia foi ajustar o menu. “Retiramos alguns pratos que eram caros, como a porção de pata negra, que custa R$ 70, e oferecemos um cardápio novo e promoções todo dia”, diz ele.
O desalento do consumidor segue freando vários segmentos de serviços. A TV por assinatura, por exemplo. Cerca de 70% da população ainda só assiste os canais gratuitos abertos. Assim, o potencial de expansão da TV por assinatura é enorme. O setor chegou a crescer 25% ao ano, dando a entender que iria se popularizar. Em 2013, porém, o crescimento perdeu fôlego e baixou para 12%. Neste ano, a projeção é que vá crescer entre 8% e 10%. Ainda é uma bela alta, mas a desaceleração sinaliza que o consumidor não quer ou não pode assumir o gasto fixo dos canais pagos. Para o presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura, Oscar Simões, não há dúvida que se trata de um efeito do desaquecimento da economia.
Transportes tem perfil parecido. Entre 2002 e 2011, a demanda por viagens de avião, que se popularizavam, avançou dois dígitos na média. Ainda cresce, mas de maneira acanhada. Em julho, a demanda doméstica cresceu apenas 0,6%. No ano, tem alta de 5,6%, mas em parte porque a oferta de voos foi reduzida em 0,3% no período.
A venda e a locação de imóveis seguem a mesma tendência e a expectativa é que encerre o ano com alta discreta de 1,5%. Em parte a retração decorre da redução no financiamento. O crédito imobiliário, que cresceu mais de 30% em 2013, foi cortado pela metade neste ano porque os bancos estão mais criteriosos. O presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis, Alexandre Tirelli, diz que depois de dois anos de explosão de vendas, o setor volta às médias históricas – que sempre foram consideradas baixas para um país com o nível de déficit habitacional do Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.