Substituto imediato de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) vem exercendo nesta semana a interinidade no comando da Casa sob tutela. Embora esteja ocupando interinamente a presidência da República, Maia vem mantendo o controle da situação à distância para impedir que o peemedebista, considerado “independente”, surpreenda aliados do governo.
No exercício da presidência da Câmara pela segunda vez desde que foi eleito em fevereiro, Ramalho é visto com desconfiança pelos governistas. Além de ter lançado de forma avulsa sua candidatura à primeira vice-presidência, à revelia da indicação da bancada do PMDB, ele também fez campanha por mais cargos para a ala mineira do partido na Esplanada dos Ministérios. Mesmo pertencendo à mesma legenda do presidente Michel Temer, Ramalho é ligado ao governador mineiro Fernando Pimentel (PT) e não esconde suas críticas à Reforma da Previdência.
Na quarta-feira, 21, por exemplo, não perdeu a oportunidade de dar sua opinião sobre a condução da reforma, contrária a do governo. “Tem que votar (a reforma), mas não vota do jeito que está”, disse.
Ainda que tenha uma boa relação com Temer, o deputado não é considerado um aliado. Oriundo do PV, ele não exerce liderança expressiva sobre os colegas do PMDB mineiro, mas tem influência sobre o baixo clero. Por causa das festas e jantares que organiza, “Fabinho Liderança”, como é chamado, sempre tem o “termômetro” do que está acontecendo entre os parlamentares das mais variadas correntes.
Monitoramento
A “liberdade assistida” de Ramalho foi monitorada por Maia do outro lado da Praça dos Três Poderes. Na terça-feira, 20, Maia promoveu uma reunião informal de líderes na residência oficial da Câmara para organizar a agenda da Casa, e fez questão de deixar a pauta desta semana (mais curta por causa das festas juninas) pronta e organizada com antecedência. Terça-feira, o presidente da República em exercício ofereceu um almoço no Palácio do Planalto para os membros da Mesa Diretora da Câmara, onde fez questão de perguntar o que havia sido votado em sua ausência.
O substituto de Maia na Câmara cumpriu a risca o roteiro pré-estabelecido: votou apenas três projetos considerados consensuais, assinou documentos administrativos e despachou os projetos aprovados para o Senado e para sanção presidencial. Enquanto Ramalho presidia os trabalhos, líderes partidários perguntavam aos jornalistas como ele estava se saindo na função. A maior parte de sua rotina na Casa foi desempenhada do gabinete da vice-presidência e o único ato autônomo foi liberar seus colegas da sessão deliberativa de ontem. “Sou interino, então como interino a gente tem lealdade e respeito a quem está na cabeça”, justificou.
Na temporada de quatro dias à frente da presidência da Câmara, Ramalho está se mantendo distante dos pedidos de impeachment contra o presidente Michel Temer que aguardam despacho. O peemedebista alega que não tratará do assunto porque o tema não é uma “questão” sua. “O momento é de tentar sair da crise”, desconversou.
Apesar de ser obrigado a andar com os seguranças da Câmara nesta semana, o deputado mineiro adotou um comportamento mais discreto e dedicou a maior parte de sua agenda a receber parlamentares. Devido à semana esvaziada, Ramalho não ofereceu o tradicional jantar aos deputados em seu gabinete. “Fabinho Liderança”, no entanto, trocou o banquete aos colegas na terça-feira por um evento no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), ao lado de Maia, do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
Nesta quinta-feira, 22, o peemedebista voltará a Belo Horizonte e decidiu abrir mão dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) – a que tem direito por estar na presidência da Câmara – para pegar voo comercial. “Sou apenas presidente interino”, argumentou.