Diego Silva Lima, de 22 anos, considera sorte ter sido atropelado apenas uma vez nos oito meses em que trabalha na Avenida Rio Branco, em Campos Elísios, centro de São Paulo. Entregador de um restaurante árabe, ele foi atingido por um carro há cerca de uma semana, quando andava de bicicleta nas imediações da Rua Vitória. Um dos motivos, segundo ele, é a desorganização de sinalização na área, com sete semáforos fora de funcionamento nas Avenidas Rudge e Rio Branco.
Como resultado, o entregador ficou com escoriações no calcanhar e a parte traseira de sua bicicleta foi danificada. Moradores e frequentadores apontam, contudo, que esse tipo de incidente não é novidade na região, especialmente nos últimos cinco meses. “Dirijo por aqui com o máximo de atenção possível. Só não aconteceu nada muito grave por sorte”, diz o comerciante Genival José dos Santos, de 43 anos, que tem uma lanchonete na Rio Branco.
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), as falhas no funcionamento dos semáforos são consequência do vandalismo e do furto de cabos de energia. Um agente de trânsito afirmou ao Estado que um semáforo da Avenida Rudge, próximo da Rua James Holland, foi consertado na Sexta-Feira Santa e, no dia seguinte, já estava novamente sem os fios.
A gerente de loja Ilda Torres, de 39 anos, não considera o furto de cabos, que costuma acontecer nas madrugadas, o único motivo para a situação. “O poder público tem responsabilidade de gerir essa região adequadamente, mas ela está abandonada. Não é só porque a Cracolândia é perto daqui que pode ficar assim”, diz a moradora, que vive na região há 15 anos.
Com o não funcionamento dos semáforos, os motoristas que trafegam nas Ruas Coronel Osório, Vitória e dos Gusmões não podem mais atravessar a Rio Branco perpendicularmente. Mesmo assim, alguns ignoraram os cones e atravessam, especialmente os motociclistas, que chegam a dirigir pela travessia de pedestres para ir de um sentido a outro da avenida.
“Já vi até gente descer do carro, tirar o cone, entrar de novo e passar pelo cruzamento”, relata a gerente. “É um absurdo. É triste ver um lugar que a gente gosta abandonado desse jeito, desvalorizado”, afirma ela, que quase se machucou ao andar de skate pela avenida com a filha, de 14 anos, no fim de semana. “Quase bati em um poste. É muita coisa para cuidar. Você fica olhando para todos os lados ao mesmo tempo”, relata.
No centro há 60 anos, a aposentada Júlia da Silva, de 80 anos, diz que sequer anda pela região no período noturno, por medo de ser assaltada. Moradora de um apartamento a cerca de duas quadras da Rio Branco, ela diz que, para conseguir atravessar a avenida, é necessário “observar o trânsito e ir se enfiando quando abrir a primeira brecha”. “O que a gente vai fazer? O semáforo aqui mais fica desligado do que funciona. Mas a gente tem de ir no mercado, na feira, não dá para ficar trancada dentro de casa.”
Histórico
Dos sete semáforos desligados, quatro tinham a presença de agentes de trânsito orientando pedestres na manhã de ontem. De acordo com a CET, nos três primeiros meses de 2017 foram registrados mais de 268 casos de furtos de cabos semafóricos na cidade, somando 12 quilômetros de fios, o que representa uma alta de 54% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em 2016, o número total foi de 40 quilômetros, o que causou prejuízo de R$ 500 mil. A companhia aponta que o furto dos fios de um único cruzamento pode afetar até seis semáforos.
Além disso, a CET diz que o contrato de manutenção dos equipamentos estava vencido desde dezembro. “O edital de licitação foi publicado em 23 de março. Trata-se de um avanço perto do contrato passado, que previa implementação e manutenção de apenas 1.500 aparelhos (há 6.387 na capital)”, informou a CET em nota.