Estadão

Ruídos políticos pressionam ativos internos e Ibovespa cai aos 126 mil pontos

Na defensiva desde o início do pregão desta segunda-feira, 5, o Ibovespa já perdeu cerca de 990 mil pontos até o momento, sem os mercados de ações de Nova York e com o investidor local preocupado com os ruídos políticos. "A questão política é que está mesmo no radar, tem ainda a proposta de reforma tributária, que deixa o investidor em dúvida se deve ou não continuar na bolsa tributação de dividendos. Há um risco político no radar", avalia Victor Bueno, da Top Gain Investimentos. Ele lembra que junho foi marcado por entrada forte de estrangeiros na B3, mas que julho já começou com esse ambiente de cautela.

No dia 1º, saíram da Bolsa R$ 748 milhões de fluxo externo. Às 11h13, o Ibovespa cedia 0,69%, aos 126.732,81 pontos, após máxima aos 127.632,71 pontos e mínima aos 126.656,05 pontos. "Tem um pouco de realização também", completa.

Pietra Guerra, analista da Clear Corretora, lembra ainda que o investidor da B3 segue repercutindo as decisões da segunda fase da reforma tributária e também tensões políticas que trazem volatilidade para os mercados por conta da CPI da pandemia. Hoje, a Comissão deve ser retomada no Senado com foco nas investigações das suspeitas nas compras das vacinas pelo governo.

O noticiário político desfavorável no Brasil impediu o Ibovespa de dar sequência à alta retomada na sexta-feira, quando subiu 1,56%, aos 127.621,65 pontos. Novos ruídos na política enfraquecem o sentimento do investidor, que segue apostando no avanço da pauta liberal e ainda espera atualizações na proposta de imposto de renda na reforma tributária.

A lista de preocupações hoje inclui desdobramentos das denúncias de compra irregular da vacina Covaxin pelo governo federal indicando um valor 50% maior no preço do imunizante, suspeita de envolvimento do presidente Jair Bolsonaro no esquema de entrega de salários, a chamada "rachadinha", e notícia de que o governo liberou mais de R$ 2 bilhões de "orçamento secreto" para a Saúde.

De acordo com Sandra Peres, analista da Trademap, o temor no mercado é mesmo com relação ao risco político pois, "querendo, ou não", a eleição de 2022 está se aproximando. "Tem de ficar de olho nessas questões, como será o desenrolar de tudo isso ruídos", afirma.

Esses fatores incomodam o investidor da B3, que ainda não pode contar com seu principal referencial – o mercado de ações de Nova York. Hoje é feriado nos EUA em celebração do Dia da Independência, o que deve reduzir o volume financeiro nos mercados globais. Aliás, a semana não é só mais curta por causa do feriado americano, mas também pela folga na Bolsa brasileira na sexta-feira, Dia da Revolução Constitucionalista de 1932 no Estado de São Paulo.

Apesar dos feriados, o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, afirma que, além das questões políticas internas, é uma semana "tensa" em termos de indicadores. "Tem a ata do Fed, a decisão da Opep e IPCA e varejo no Brasil", cita em call matinal a clientes e à imprensa, lembrando ainda dos ruídos políticos envolvendo o governo e o impasse da proposta de reforma tributária.

Nem mesmo a valorização das commodities ameniza. O petróleo tem instabilidade, operando perto da estabilidade, com investidores à espera da decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Na sexta-feira, a reunião sobre a oferta da commodity terminou sem conclusão, o que pode acontecer hoje.

Já o minério de ferro no porto chinês de Qingdao fechou em alta de 1,76% nesta segunda-feira, a US$ 221,82 a tonelada, enquanto no mercado futuro de na bolsa de Dalian subiu 5,51%, cotado a 1.225 iuanes. Ainda assim, as ações da Vale cediam em torno de 0,50% perto de 11h20.

De acordo com Bandeira, seria importante o Ibovespa não perder os 125 mil pontos e tentar retomar os 129 mil pontos. A última vez que atingiu este nível foi no dia 25, a 129.747,61 pontos, na máxima intradia.

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