Em uma situação financeira complicada, a Usiminas corre o risco de não ter caixa para manter suas operações a partir de março, segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo. Há meses tentando vender ativos, sem sucesso, para ganhar fôlego e em renegociação com bancos para alongar dívidas, a siderúrgica mineira, que já desligou três dos seus cinco altos-fornos, em Ipatinga (MG) e Cubatão (ex-Cosipa), tenta encontrar uma solução para evitar que a empresa entre em recuperação judicial.
A possibilidade de um aumento de capital, conforme antecipou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, não é um consenso no grupo. Fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmam que um aporte, neste momento delicado da empresa, só poderia ser feito se a Usiminas apresentasse um plano de reestruturação para dar credibilidade ao mercado e mudasse a gestão.
“A Usiminas vive um conflito de gestão há tempos, antes mesmo da entrada do grupo Techint (em 2011). Tanto Usiminas como CSN, que estão altamente endividadas, tentam vender ativos. Mas a atual situação do setor é grave, com a superoferta global de aço e menor demanda da China. Além disso, a crise econômica no Brasil retraiu a demanda, agravando a situação”, disse Pedro Galdi, da consultoria Galdi Investimentos.
A próxima semana será crucial para a companhia. No dia 18, o grupo divulga o balanço do quarto trimestre e a expectativa do mercado é de que a empresa feche no vermelho e a relação da dívida líquida/Ebtida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) aumente exponencialmente.
No terceiro trimestre, a Usiminas encerrou com prejuízo líquido de R$ 1,042 bilhão e Ebtida ajustado negativo em R$ 65 milhões. Em setembro, a siderúrgica tinha em caixa R$ 2,4 bilhões. No entanto, parte desses recursos, R$ 1,3 bilhão, estava na Mineração Usiminas (Musa), que barrou a liberação de caixa ao controlador.
A CSN, no mesmo período, registrou um Ebtida de R$ 853 milhões e prejuízo líquido de R$ 532,6 milhões. Já a Gerdau reportou um Ebtida de R$ 1,291 bilhão e prejuízo líquido de R$ 1,9 bilhão (mas, em termos ajustados, lucro líquido foi de R$ 191 milhões).
Disputa societária
Com as ações derretendo nos últimos meses, a Usiminas ainda vive uma das maiores disputas societárias do País. A japonesa Nippon Steel e a Ternium, subsidiária do grupo ítalo-argentino Techint, que fazem parte do bloco de controle, romperam as relações em setembro de 2014. Desde 2015, a Ternium não participa mais das decisões do dia a dia da companhia. Ontem, as ações preferenciais da empresa recuaram 12,37%, para R$ 0,85.
A crise na Usiminas levou o governo de Minas Gerais a montar uma força-tarefa para mediar um entendimento entre as duas sócias. O objetivo é que as companhias encontrem uma solução para a disputa societária e façam, assim, um aporte na Usiminas, disse ao Broadcast o presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), Marco Antonio Castello Branco. Vale lembrar que Castello Branco é ex-presidente da Usiminas. Ele presidiu a companhia por dois anos e sua saída foi tumultuada, sob várias acusações.
Procurada, Usiminas não comenta. A Nippon informou que, em relação à posição de caixa e um eventual pedido de recuperação judicial, o assunto deve ser avaliado pela administração de Usiminas e que “não tem conhecimento do assunto”, mas que quer proteger os interesses da companhia. A Ternium, por meio de sua assessoria, enfatizou que busca um melhor entendimento para um choque de gestão que a Usiminas necessita neste momento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.