Estadão

Socialistas levam presidência do Parlamento espanhol e beneficiam Sánchez

O recém-eleito Parlamento da Espanha votou nesta quinta-feira, 17, por para eleger uma candidata socialista como presidente da Câmara, graças ao apoio dos independentistas catalães, abrindo caminho para as aspirações do primeiro-ministro interino, Pedro Sánchez, de formar outro governo de esquerda.

Francina Armengol, 52 anos, recebeu os votos de 178 deputados, dois a mais que a maioria absoluta, graças ao apoio dos sete deputados do Junts per Catalunya (Juntos pela Catalunha), o partido de Carles Puigdemont que representa a ala dura do independentismo catalão.

"Em consequência, a senhora Francina Armengol é proclamada presidente do Congresso", anunciou Cristina Narbona, que, no papel de deputada de mais idade da Câmara, presidiu a primeira sessão da nova legislatura, como determinam as normas do Parlamento.

Armengol derrotou a candidata do conservador Partido Popular (PP), Cuca Gamarra.

O partido conservador foi o mais votado nas eleições de julho e conseguiu 137 cadeiras no Congresso, 16 a mais que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que, no entanto, tem mais possibilidades de estabelecer alianças.

"O que não sabemos é até que ponto vão essas concessões. E exigimos luz do Partido Socialista para que os espanhóis saibam o que cedeu ao movimento de independência para obter seus votos", disse Gamarra à imprensa.

<b>Concessões</b>

O apoio dos independentistas de Puigdemont, refugiado na Bélgica desde 2017 e procurado pela justiça espanhola, veio depois de um acordo que contempla que o catalão e as outras línguas espanholas podem ser utilizadas no Congresso dos Deputados.

"Esta presidência vai permitir o uso de todas essas línguas no Congresso a partir desta sessão", anunciou Armengol em seu primeiro discurso.

O acordo também contempla que a Espanha se esforçará para que estes idiomas sejam utilizados como línguas de trabalho na União Europeia, além da criação de uma comissão de investigação sobre a suposta espionagem de independentistas catalães por parte dos serviços de inteligência espanhóis.

O pacto também menciona a criação de uma comissão de inquérito sobre os atentados extremistas em Barcelona e Cambrils em 2017, que completam seis anos nesta quinta-feira, porque os independentistas expressam suspeitas sobre o Estado.

"É necessário esclarecer os vínculos dos serviços de inteligência espanhóis com o imã Es Satty", o mentor dos ataques, que morreu nos atentados, e "se os aparelhos do Estado tinham informações sobre os atentados e esclarecer porque não foi possível evitá-los", afirmou o partido catalão sobre os ataques que deixaram 16 mortos.

Os atentados já foram julgados e terminaram com condenações dos três sobreviventes da célula jihadista, integrada por nove pessoas.

A eleição da nova presidente do Congresso era muito aguardada, não tanto porque este cargo representa a terceira autoridade do país, e sim porque o resultado representaria um indício claro sobre a possibilidade de Sánchez ser reeleito em uma votação de posse que pode acontecer entre o fim de agosto e o início de setembro.

"Uma formação de governo por Sánchez está hoje mais próxima do que ontem. Foram tomadas medidas para aproximar os Junts de um voto favorável a Pedro Sánchez", disse o cientista político Toni Rodon, da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona. "Atingir este pacto quebra o gelo de uma relação (entre os Junts e os socialistas) marcada por uma enorme desconfiança".

O Junts per Catalunya afirmou que o acordo deve ser cumprido para tratar da posse de Sánchez. Puigdemont alertou, em mensagem na rede social X – antigo Twitter -, que o acordo negociado até a madrugada desta quinta-feira "não pode ser, de forma alguma, vinculado à candidatura", por isso será necessário trabalhar novamente seu apoio.

Este foi apenas o primeiro round de uma batalha cujo resultado depende dos sete deputados do Junts per Catalunya , ou seja, de Puigdemont, e o próximo será a posse do chefe de Governo.

O paradoxo foi provocado pelos resultados inesperados das eleições parlamentares de 23 de julho, quando o PP, liderado por Alberto Núñez Feijóo, conquistou uma vitória muito abaixo do esperado.

Para a sessão de posse, os dois blocos, de um lado o governo demissionário de esquerda, e, do outro, a direita e extrema direita, parecem ter condições de contar com o apoio de 171 deputados cada. Além dos sete deputados do Junts per Catalunya, a única deputada de um partido regional das Ilhas Canárias também será decisiva.

A derrota do Partido Popular de Alberto Núñez Feijóo destacou seu isolamento na câmara. Isso se deve principalmente aos numerosos pactos em governos regionais e municipais com o Vox, partido considerado tóxico por outros grupos no Parlamento, mas que é a terceira força política do país.

No final das contas, nem mesmo o Vox votou no candidato do PP hoje, indicando uma cisão séria entre os dois e enfraquecendo muito as chances de Feijóo convencer o rei de que pode comandar um governo.

"Neste cenário, o rei Felipe VI tem agora mais razões para pedir a Pedro Sánchez que seja o primeiro a tentar a investidura em vez de Feijóo, que tinha sido a escolha provável até agora", dado que obteve o maior número de votos nas eleições de julho, disse a analista política Verónica Fumanal, da Associação de Comunicação Política.

Esse cenário coloca Puigdemont em uma posição privilegiada para determinar o curso da política da Espanha nos próximos quatro anos. Mas suas opiniões são politicamente explosivas para a maioria dos espanhóis e ceder a elas pode ser uma armadilha mortal para o bloco de esquerda.

O ex-presidente regional da Catalunha quer que o novo governo da Espanha conceda uma anistia a ele e a centenas de outros separatistas que enfrentam problemas legais por sua participação em sua candidatura separatista.

Ele também quer que Madri autorize um referendo sobre a independência da Catalunha. O referendo não seria um bom começo para Sánchez, que, no entanto, perdoou separatistas de alto nível e reformou leis para dar algum alívio legal aos separatistas como parte de sua agenda para diminuir as tensões na Catalunha.

O próximo obstáculo para formar um governo virá nos próximos dias, quando o rei Felipe VI iniciar suas consultas com os líderes dos diferentes partidos para ver quem tem mais chances de formar um governo. Se esse candidato não conseguir o apoio do Parlamento, inicia-se uma contagem regressiva de dois meses, após a qual novas eleições serão convocadas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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