Nesta sexta-feira, 20, Donald Trump intensificou sua estratégia para transformar a derrota nas urnas em vitória no colégio eleitoral. Na Casa Branca, recebeu uma delegação de congressistas estaduais de Michigan, Estado em que o democrata Joe Biden venceu por mais de 150 mil votos. O objetivo é pressionar os Legislativos locais, dominados pelo seu partido, para que ignorem o resultado e escolham os eleitores que decidirão o vencedor da eleição.
Inconformado com a derrota, o presidente parece disposto a subverter mecanismos que antes eram apenas procedimentais e se beneficiar do fato de a eleição americana não ser direta – quem decide o presidente é um colégio eleitoral composto por 538 eleitores escolhidos pelos Estados. Michigan tem 16 votos. Por isso, sozinho, o Estado não seria capaz de reverter a vantagem de Biden (306 a 232).
Ontem, a <i>CNN</i> e o <i>Washington Post</i>, com base em relatos de fontes da Casa Branca, disseram que a campanha deve convidar também, nos próximos dias, congressistas da Pensilvânia (20 votos no colégio eleitoral) e de Wisconsin (10 votos), ampliando a estratégia para mais dois Estados vencidos por Biden – o democrata teve 80 mil votos a mais na Pensilvânia e venceu por 20 mil votos em Wisconsin.
O caminho, no entanto, é cheio de obstáculos. Um deles é o tempo. Na segunda-feira termina o prazo para que as comissões eleitorais estaduais certifiquem o resultado na Pensilvânia e em Michigan. Trump vem tentando adiar essa data nos tribunais, mas perdeu todas as ações legais sobre o tema. Por isso, partiu para a pressão pessoal.
Os resultados em Michigan já foram certificados por todos os 83 condados e agora estão nas mãos do comitê eleitoral do Estado, composto por dois democratas e dois republicanos – um deles, Norman Shinkle, já disse que votará pelo adiamento da certificação. "Se há irregularidades, uma auditoria é o mais indicado", disse.
A tese de que os Legislativos estaduais podem subverter o resultados das urnas é altamente contestável – a grande maioria dos juristas garante que a manobra seria destruída na Justiça. No caso específico de Michigan, a governadora Gretchen Whitmer, democrata, teria poder de vetar qualquer decisão do Congresso local.
Richard Primus, constitucionalista da Universidade de Michigan, afirmou que os congressistas que estiveram ontem na Casa Branca, se de fato cederem à pressão de Trump, podem ser indiciados criminalmente, já que a lei do Estado proíbe ao Legislativo mudar o resultado das urnas.
"Uma pessoa quando está se afogando tenta se agarrar a qualquer coisa. Uma pessoa forte e capaz de levar outros com ele para o fundo", escreveu Primus em artigo no Político. "Até agora, os congressistas de Michigan – e dos outros Estados que Trump tenta virar, como Pensilvânia e Wisconsin – têm mantido certa distância. Espero que continuem assim."
O Partido Republicano parece dividido quanto a estratégia. Ontem, dois deputados – Richard Hudson e Paul Gosar – disseram que o caminho escolhido pela campanha está dentro da lei. "Os Estados deveriam adiar a certificação dos resultados", disse Hudson. "Os Estados têm poder de nomear os próprios eleitores", afirmou Gosar.
Mas a oposição à estratégia vem crescendo, especialmente após a tumultuada entrevista coletiva do advogado de Trump, Rudy Giuliani, na quinta-feira. O ex-prefeito de Nova York, que fatura US$ 20 mil por dia para liderar a equipe legal do presidente, disse que Biden liderava um complô comunista que passava pela Venezuela.
Ontem, o senador Lamar Alexander e os deputados Kay Granger e Fred Upton – parte dos republicanos mais antigos do Congresso – pediram que Trump aceite a derrota. "É hora de seguir em frente", disse Granger. "Ninguém conseguiu identificar qualquer sinal de fraude", afirmou Upton . (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>