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Um grande mistério ao final da Copa das Copas

Artigo de Eduardo Nascimento, presidente do SINDETUR-SP - Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo.

Todo o entusiasmo que o governo procurou transmitir ao povo brasileiro, quando a Fifa anunciou o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, evaporou como etanol ao longo dos últimos sete anos. Em outubro de 2007, ainda em Zurique, as autoridades brasileiras prometeram uma nova era para o País: além de novos estádios, seriam resolvidos os problemas de mobilidade urbana (um dos grandes infernos da vida nacional), pelo menos nas doze cidades-sede da competição, e todos os outros setores seriam beneficiados, como o Turismo, a infraestrutura etc.

Para o nosso setor, anunciaram números grandiosos com a vinda de 600 mil turistas estrangeiros e o incremento de milhões de dólares em seus segmentos, como transporte aéreo, hotéis e benefícios para o comércio e trabalhadores. Mas os profissionais do turismo não se entusiasmaram, pois logo souberam que a Fifa era a dona de tudo: de ingressos a reservas de hotéis.

Não cabe a nós, do Turismo, espalhar o pessimismo sobre uma das maiores competições do Planeta; primeiro, por ser o futebol a grande paixão nacional; segundo, por ser o Brasil o único pentacampeão mundial. E, se vier o hexa, em nosso território, participaremos da festa vestidos de verde e amarelo. Somos patriotas.

E é por isso mesmo, por vestir a camisa do País, que temos o dever de enxergar a realidade e de não nos deixar envolver pelo ufanismo oficial. O orgulho de patrocinar o evento custaria ao País no início cerca de R$ 30 bilhões. Ainda não dá para fazer as contas finais, mas o preço desse castelo de sonhos vai muito além. Castelo que começou a ruir quando as obras dos majestosos estádios padrão Fifa romperam no horizonte.

Nas cercanias, nenhuma obra de mobilidade urbana conforme o prometido; esgotos continuam a céu aberto, hospitais e escolas em estado lamentável, as favelas penduradas nos morros contemplando a ostentação do futebol.  Em algumas cidades, até o caminho para o estádio exige grandes sacrifícios.

Então o povo saiu às ruas no ano passado em protesto ao contraste patrocinado pelo governo. As multidões pediam investimentos em saúde, educação, segurança pública, moradia e mobilidade urbana. Enfim, infraestrutura digna para o País.

Num país em desenvolvimento, merece protesto a decisão de gastar bilhões de reais em um grande evento esportivo e não melhorar em nada o investimento para as precárias condições sociais da população. E se lembrarmos que a Copa antecede as eleições presidenciais em poucos meses, dá para pensar no projeto político do Partido dos Trabalhadores de se manter no poder por 30 anos. Resta saber se mais um título de campeão mundial levaria Dilma Rousseff à vitória nas urnas em outubro.

Este pode ser o legado da Copa para o Brasil. No entanto, teremos pouco a comemorar e muito a lamentar. Para começar, são grandes elefantes brancos por todo o território nacional, um deles em Brasília – o estádio Mané Garrincha, o mais caro de todos, estimado em R$ 1,9 bilhão.

Das obras de mobilidade, uma das poucas a ficar pronta é a Transcarioca, no Rio de Janeiro, ligando o aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca. Com ou sem Copa, teria mesmo de ser construída em razão do trânsito caótico da cidade, o segundo pior do País.

O que fica de mobilidade para São Paulo? Talvez, só esta decisão da Prefeitura: a Radial Leste será fechada para o trânsito comum em dias de jogos da Copa no Itaquerão.

No cômputo geral, a perda será grande. A produção da indústria será reduzida com os feriados em dias de jogos do Brasil, o comércio venderá e contratará menos. E menos ainda se houver mais manifestações populares. No Turismo, o movimento pode ser um pouco maior do que o normal para o período em anos anteriores. Muitas pessoas vão preferir ficar longe das confusões do futebol.

E a infraestrutura? Os aeroportos privatizados continuarão em obras, pois os leilões ocorreram muito tarde. Os demais aeroportos estão a cargo da ineficiente Infraero. Sobre ferrovias, rodovias e portos, simplesmente nada em planejamento.

Eis o retrato de hoje da “Copa das Copas”, como costuma dizer a presidente Dilma: os hotéis estão colocando à disposição apartamentos reservados para as agências da Fifa, pois a lotação será menor que a prevista; as empresas aéreas começam a reduzir o preço das passagens, pois não haverá um fluxo de passageiros alto como se imaginava.

Resta a torcida pelo Brasil nos gramados. Campeão, será um bom ganho. Pois de pouco adiantará saber o custo real da festa. A única certeza é de que pagaremos a conta, mais uma vez derrotados pela imprudência e pela impunidade.

 

* Eduardo Nascimento é presidente do SINDETUR-SP – Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo.

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