Cidades

Vamos cuidar dos nossos mananciais

A represa de Guarapiranga é um dos principais reservatórios de São Paulo, abastecendo um terço da população de 11 milhões de habitantes da capital.


Nas últimas décadas, o reservatório foi invadido por famílias que entregaram seu dinheiro a “corretores” em troca de um terreno. Hoje, calcula-se em cerca de 20% a ocupação do entorno da Guarapiranga. O impacto desse movimento é imensurável. Primeiro, por causa do desaparecimento da vegetação nativa, essencial para manter a qualidade da água. Mas, principalmente, porque o esgoto de uma população estimada em 800 mil famílias acaba sendo despejado “in natura” nas águas da represa.


Engana-se quem imagina que se trata de um problema isolado. Onde quer que se vá nesse país, é possível encontrar cenas como essa. Legiões de famílias que, sem ter onde morar, terminam se alojando à beira de rios e represas. Com a discussão em torno do Meio Ambiente cada vez mais em destaque, os governos passaram a se preocupar com o tema, que envolve dois serviços básicos ao ser humano, ignorados pelas autoridades desde que Cabral desembarcou por aqui há mais de 500 anos: esgoto e habitação.


É nesse ponto que vale destacar o esforço do governo federal e a promessa de investir pesado nessas duas áreas com a colaboração dos governos estaduais. Esgoto e habitação aparecem como pilares do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em São Paulo, essa parceria prevê um investimento inicial R$ 1 bilhão para obras de saneamento básico, habitação e despoluição das represas Guarapiranga e Billings.


Torço para que o projeto saia do papel e que os entes públicos também aproveitem a oportunidade para estimular o debate em torno da necessidade de cuidar dos espaços públicos e preservar o meio ambiente.


Não se trata de um projeto simples. Em alguns locais, inclusive, será necessária a remoção de famílias das margens dos mananciais. Até por isso, a ação dos governantes tem de ser transparente e justa. Se essas pessoas não se sentirem lesadas em seus direitos, tenho certeza de que sairão sem causar embaraços a ninguém. Aos outros, porém, haverá a possibilidade de receber serviços para melhorar a infra-estrutura e permitir que possam viver felizes e em harmonia ao lado de uma represa tão importante para a cidade.


É importante lembrar que a maioria dos terrenos foi comprada de imobiliárias fantasmas, que aplicaram golpes na praça e desapareceram. Mesmo assim, essas áreas são apontadas como ocupações, sem levar em conta que milhares de pessoas depositaram suas esperanças e economias no “empreendimento”.


O problema ainda persiste. Dias atrás, li estupefato a notícia de que um homem havia sido preso comercializando terrenos em áreas de proteção ambiental da zona Sul de São Paulo. Se isso ocorre na maior metrópole da América Latina, imagine como anda a situação no resto do país.


Reduzir o déficit habitacional e expandir as redes de esgoto são os maiores desafios do Brasil. Só assim poderemos almejar um lugar de destaque no mundo desenvolvido e ter a certeza de que nossos mananciais terão reservas suficientes para nos servir nas próximas décadas – a água é um bem precioso e escasso no planeta. Mas tudo tem que ser feito com bom senso e justiça. A união entre forças federais e estaduais já é um bom exemplo de como ainda é possível fazer política sem se preocupar somente com relações partidárias e períodos eleitorais. A população e o meio ambiente agradecem.


Sebastião Almeida é deputado estadual pelo PT, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. E-mail: [email protected]

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