Cidades

Uma a cada três mulheres são vítimas de algum tipo de violência, diz estudo

A sociedade discutiu fortemente nas redes sociais três casos midiáticos de violência contra a mulher, mas não considerou os dados que mostra a situação de vulnerabilidade do gênero

Gostaria de inaugurar essa editoria com uma notícia muito boa para nós, mulheres, mas não vou conseguir porque seria negligente de minha parte se deixasse de falar sobre notícias amplamente repercutidas na mídia e, principalmente, nas redes sociais, nas últimas semanas, e que tem tudo a ver com o cotidiano feminino – a violência contra a mulher.

De fevereiro para cá, três casos bastante midiáticos tomaram horas de discussão e dividiram opiniões. Independente de a quem se tente atribuir a culpa, o fato objetivo é que mulheres foram agredidas, e uma delas ao vivo e a cores para todos vermos.


Em fevereiro, o cantor sertanejo Victor, da dupla Victor e Léo, foi denunciado pela esposa, grávida, por tê-la agredido. O caso teve ampla repercussão e desdobramentos.


No início desse mês, o ator José Mayer, conhecido pelo seu charme e talento (dizem) foi denunciado pela figurinista da TV Globo, Susllem Tonani, por assédio sexual. Outro caso de ampla repercussão e desdobramentos. Zé Mayer admitiu a culpa publicamente e foi afastado das suas atividades.


Também em abril o brother Marcos, que já vinha constrangendo, assediando e agredindo Emily, colega de confinamento no programa Big Brother Brasil, foi expulso.  O casal vinha mantendo um relacionamento amoroso e as agressões eram freqüentes.


Esses são casos com grande repercussão e foram exaustivamente discutidos durante esses dois meses, mas que já estão caindo no esquecimento, assim como ficam no esquecimento as agressões não midiáticas.


Violências anônimas
 
Infográfico: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Os números de agressão contra o gênero são alarmantes e crescentes. Em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma pesquisa do instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança, revelou que uma a cada três mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no ano passado. Dessas, 503 mulheres sofreram violência física a cada hora.


Ainda segundo o levantamento, 22% das brasileiras (12 milhões) foram verbalmente ofendidas, 10% sofreram ameaça de violência física, 8% sofreram ofensa sexual, 4% receberam ameaça com faca ou arma de fogo, 3% – 1,4 milhões de mulheres sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento e 1% foi vítima de arma de fogo.


A violência contra a mulher é tanta que 52% se calaram, por medo ou vergonha. Apenas 11% romperam o silêncio e procuraram uma delegacia da mulher; 13% preferiram o auxílio mais discreto da família.


O agressor em 61% dos casos é conhecido. O levantamento mostra que 19% deles eram companheiros atuais das vítimas e em 16% dos casos eram ex-companheiros.


A pesquisa mostrou ainda que 43% das agressões mais graves ocorreram dentro de casa e 39% nas ruas.
As mulheres já são 51% da população brasileira – 105,2 milhões. O estudo considerou apenas as mulheres adultas e os números mostram que esse universo é de cerca de 55 milhões, excluindo as crianças e adolescentes com menos de 16 anos.
Assédio


Os comentários invasivos, ao contrário de elogiosos, são constrangedores e por isso considerados assédio. Assim também o é beijar ou agarrar a mulher sem o seu consentimento ou tocá-la propositadamente nas suas partes intimas no transporte público. E o levantamento mostra que essas são práticas recorrentes: 40% das mulheres acima de 16 anos sofreram algum desses tipos de assédio.


O cenário tem piorado bastante na última década, essa é a sensação da maioria dos brasileiros (73%). A maior parte das mulheres (76%) também fazem essa leitura.


Esses números são expressivos e se as discussões sobre os casos midiáticos os considerassem, as discussões seriam, sem dúvida, mais proveitosas, pois tiraria o véu que obscurece a realidade do gênero. A violência contra a mulher acontece todos os dias, no ano passado uma a cada três mulheres foram vítimas de algum tipo de agressão.


Mais sobre o universo feminino em (mulherreal.com)
Edna Pinson é jornalista com pós-graduação em Política e Relações Internacionais e especialização em Realidade Brasileira e Coolhunting Reconhecimento de Padrões e Estratégias

 

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