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Em documentário, Brian De Palma fala da carreira, de técnicas e até de fracassos

De muitos filmes se diz, com certo exagero, que são “aulas de cinema”. Bem, se existe um que merece esse título, sem aspas, é mesmo este De Palma, de Noah Baumbach e Jake Paltrow. Nele, o cineasta Brian De Palma passa em revista sua carreira, da formação escolar até os primeiros sucessos junto à turma de jovens inovadores de Hollywood. Fala dos seus métodos de filmagem, de suas influências, e abre uma janela para os bastidores da indústria.

Talvez o fato de ser filmado por um colega cineasta, como Baumbach, tenha facilitado as coisas. O fato é que o diretor de Vestida para Matar e Os Intocáveis se abre mesmo para a câmera. Quase todo o tempo postado no mesmo cenário, e com pouca variação de enquadramento, fala do seu trabalho e o faz sem preocupações de didatismo, mas de maneira simples e sem grandes teorizações. Porém nunca banaliza o ato de filmar, essa arte que desenvolve nas entranhas de uma indústria poderosa, o que é tanto sua força como sua fraqueza.

Mas o documentário não abre com imagens de De Palma ou de um dos seus filmes, mas com o clássico O Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock. O fato é que De Palma é um dos cineastas mais conscientemente influenciados pelo velho Hitch.

A carreira de De Palma, descrita por ele mesmo, é a de um cinéfilo. E que não limitou suas influências ao cinema de seu país. Além de Hitchcock, não ficou indiferente às tendências inovadoras propostas pela nouvelle vague. A ponto de rodar um filme de sintaxe godardiana como Greetings (Saudações) em 1968. Mas Irmãs Diabólicas, Trágica Obsessão, Carrie, a Estranha e Vestida para Matar são seus diálogos com o suspense e o medo. Sabe que, para isso, o estabelecimento de um clima com o espectador é fundamental. Toda a técnica é jogada nessa construção cinematográfica.

Há pontos fora da curva, um deles o flop de O Fantasma do Paraíso (1974), execrado no lançamento. De Palma se lembra que a crítica no New York Times foi tão virulenta que provocou efeito reverso e despertou simpatia pelo diretor em outros veículos. A influente Pauline Kael, na revista New Yorker, o defendeu. Ele próprio reconhece o fracasso de um projeto que tinha origem na crítica da indústria musical, “que pasteuriza tudo” mas estabelecia relações em várias direções a ponto de virar pastiche.

O que é hábito e um estilo em De Palma: o recurso às referências. Não é garantia de êxito, mas às vezes diálogos como mestres produzem boas coisas. É o que acontece talvez com seu melhor filme, Um Tiro na Noite (1981), Blow Out, no original, um diálogo próximo com Blow Up, de Michelangelo Antonioni, adaptado de Julio Cortázar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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