Sem plateia, festival aposta em unir teatros com monólogos vistos de casa

A baixa audiência que rondou as transmissões musicais nos últimos meses também persegue os artistas de teatro. É certo que uma cena caseira ainda não traduz a experiência do palco, e raramente amplia o potencial do intérprete que se apresenta. A emergência da covid-19 sequestrou a estética e a criação, mas o "show precisa continuar".

Para afastar os fantasmas que agora ocupam o interior dos teatros quarentena adentro, a Secretaria Municipal de Cultura anuncia nesta quarta-feira, 15, o Festival Palco Presente, um edital que propõe um meio de campo – devolver a criação teatral para o palco e oferecer suporte emergencial aos artistas.

Diferentemente das sessões online, muitas delas feitas na casa de atores, o festival vai fomentar pequenas produções – monólogos ou duos cênicos, apresentados no interior dos teatros, sem plateia, e exibidos na internet. "A ideia é que o artista possa retornar, agora sem aquela luz fantasma que transformou os palcos na quarentena", afirma o coordenador de teatros e centros culturais, Pedro Granato.

O chamamento será lançado na próxima semana e vai contemplar cerca de 70 espaços teatrais, públicos e privados, com subsídios que vão de R$ 6 mil a R$ 12 mil, com as apresentações programadas para um único fim de semana de agosto.

Para Granato, a iniciativa também traz efeitos na criação. "O resultado estético será diferente. O artista vai ter o palco, os recursos de luz, o som e, quem sabe, o cenário. Não é uma live de apartamento, mas uma transmissão conjunta", afirma.
Para demarcar a presença do festival na capital, os espaços participantes vão receber uma intervenção artística de Flávia Junqueira, que já transformou o interior do Teatro Alfredo Mesquita com balões coloridos na sala teatral.

Uma ação que lembra a recente apresentação de um quarteto de cordas para uma plateia de plantas no Grande Teatro do Liceu, de Barcelona. "É criar a sensação de que esse vazio pode ser preenchido artisticamente", comenta o secretário municipal de Cultura, Hugo Possolo, ao <b>Estadão</b>. "Entendemos que as pessoas estão assustadas, que não é o tempo de reabrir teatros para o público. No entanto, precisamos dar soluções criativas para atravessarmos este momento."

<b>Planos de reabertura</b>

Há mais de três meses com os teatros e os espaços culturais fechados, a classe artística celebrou recentemente a aprovação da Lei Aldir Blanc, que transfere recursos emergenciais para trabalhadores da cultura. Em São Paulo, mais de 115 mil pessoas receberão o auxílio.

Na última semana, a SMC se reuniu virtualmente com representantes de teatros e espaços de cultura para debater propostas no plano de reabertura. Embora o governo do Estado tenha anunciado uma possível volta dos teatros a partir do dia 27 de julho, a reportagem apurou que, na prática, isso deve ocorrer em meados de agosto e setembro. "Os protocolos para os equipamentos municipais, por exemplo, serão entregues a partir do dia 28 de julho", afirma Possolo. "E ainda vai faltar a aprovação da Vigilância Sanitária." O mesmo será repassado aos teatros privados e de terceiros. "Não podemos impedir que abram, mas podemos oferecer orientação e auxílio na aplicação de medidas de segurança", ressalta o secretário.

Nesse intervalo, o Festival Palco Presente parece ocupar um lugar de oportunidade. Devolver o palco ao artista, mesmo que em formato reduzido, permite que a criação ocorra mais próxima da natureza teatral. "Os teatros terão oportunidade de contar sua história e despertar a saudade no público", explica Granato.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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