Mundo das Palavras

Historiador com talento de escritor

A deficiência dos historiadores é a de serem péssimos romancistas. Esta frase circula entre profissionais da criação de texto como manifestação da indignação com a aridez dos textos de História produzidos nas universidades. Realmente, raríssimos ofícios dispõem de materiais tão propícios à elaboração de textos atraentes como o ofício de quem reconstitui o passado. Um exemplo da riqueza do material com o qual se lida neste ofício está contido nos templos antigos da Amazônia. O fato de os acadêmicos só conseguirem criar textos herméticos e enfadonhos com materiais como este gera, no mínimo, frustração em quem gosta de ler.


Um daqueles templos da Amazônia, a Igreja de Santo Alexandre, em Belém, era um espaço de refinamento artístico-religioso dentro do conjunto arquitetônico monumental construído pela Companhia de Jesus. Nele, a ordem dispunha de capelas domésticas, dois pátios, pomar, jardim, horta, salas de aulas, aposentos dos padres, dois refeitórios, farmácia, biblioteca, sala de consulta, duas cozinhas, fornos, casas de hóspedes, oficinas de pintura e de escultura.


 Mas a opulência da igreja era sustentada pelos pobres índios das aldeias administradas pelos religiosos.


Quando o todo poderoso Marquês de Pombal, ministro de Portugal, resolveu recuperar para o seu Governo o controle da economia do Gram-Pará,  a Companhia de Jesus foi expulsa da região, junto com os mercedários e os carmelitas, também enriquecidos com a administração da mão de obra indígena a ponto de disporem de recursos para levantar outras suntuosas construções em Belém.


Por ordem de Pombal, os jesuítas foram presos e remetidos para Portugal. Sete deles morreram na prisão e dois permaneceram nelas por dezoito anos.


A ordem viu-se expulsa de Portugal, da França e da Espanha. E, por fim, foi extinta pelo papa.  No entanto, recriada, posteriormente, há muitos anos, voltou a ser uma das instituições mais poderosas da Igreja Católica.


Felizmente, esta saga ocorrida na Amazônia Colonial caiu nas mãos de um grande historiador, também talentoso criador de textos. Sobre ela, João Lúcio de Azevedo escreveu “Os jesuitas no Grão-Pará: suas missões e a colonização”. Publicado em 1901, até hoje a obra continua a ser editada. Sua leitura propicia grande prazer intelectual.


 

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