O encarregado de negócios da Embaixada Britânica de Brasília (DF), Wasim Mir, afirmou nesta quarta-feira, 4, que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) pode representar um estreitamento de laços com o Brasil. A declaração foi dada durante o evento “O que o Brexit significa para o mundo (e para o Brasil)?”, promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo.
Mir citou a longevidade da relação econômica entre as duas nações. “A relação entre o Reino Unido e o Brasil é muito antiga e é claro que tivemos altos e baixos ao longo da história, mas hoje temos uma colaboração mútua no âmbito da educação, principalmente na ciência. Essa parceria vai continuar”, afirmou.
Mir também ressaltou que o mercado financeiro passa hoje por um período de especulação e instabilidade que pode gerar oportunidade de negócios. Nesse sentido, ele espera que o Brexit abra a possibilidade de desenvolver novos parceiros comerciais.
Oscilação das moedas
No evento da promovido pela Amcham, o professor de Economia do Insper e sócio da Nogami Participações, Otto Nogami, avalia que a oscilação brusca das moedas internacionais, principalmente da libra, e a fuga do capital estrangeiro do Reino Unido por conta do Brexit são temporários.
“A tendência é que o mercado acabe se estabilizando”, disse Nogami, ao comentar a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE). “O Brexit dói, machuca, mas ao longo do tempo as relações são estabilizadas”, complementou.
Na visão de Nogami, a decisão dos britânicos de votarem a favor da saída da UE é consequência da preocupação com a imigração, além da expectativa de garantir e melhorar o acesso a bens e serviços e destacar suas qualidades, como seu centro financeiro, considerado pelo especialista, como “o centro financeiro mais importante do mundo”.
Já o professor de Direito e Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Marcus Vinicius de Freitas, acredita que o Brexit é um equívoco. “O que se mostrou é uma Europa à la carte, um nacionalismo em alta e medo da globalização”, ressaltou. Para ele, o bloco peca pela transparência e o futuro do bloco será definido pelas razões definidas por Alemanha e França.
O engajamento do Reino Unido na busca de acordos bilaterais ou multilaterais já é uma demonstração de que a saída terá alternativas positivas para o país se estabelecer comercialmente fora da União Europeia, segundo o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), José Augusto Fontoura Costa.
“A pessoa não se divorcia para ficar sozinha. Já pensa em ter alguém lá na frente. E esse novo engajamento em acordos bilaterais e multilaterais é sinal de que o Reino Unido já está buscando alternativas. É bom para nós, não sei para a Inglaterra ainda, mas eles têm que resolver. A fila anda e vai andar para eles, com certeza”, disse.
Efeito dominó
O professor da USP ainda avalia que não haverá efeito dominó de saída de outros países-membros do bloco, entretanto acha que pode haver uma desagregação do Reino Unido. “Nacionalismos britânicos acontecem com grande força. Se a Escócia fizesse um plebiscito hoje, com certeza eles sairiam, o que me parece ruim em termos históricos e mais complicado que o Brexit”, ressaltou.
Já Freitas, da FAAP, vê mais complicações, com possibilidades de conflitos e uma eventual vontade de saída da Irlanda do Norte do Reino Unido. Ele também ressalta que outro grande equívoco da União Europeia ainda é não saber lidar com a Rússia, o que pode gerar instabilidade no bloco.