A essencialidade do setor, que permitiu que funcionasse na pandemia, e o grande movimento nas lojas podem dar a falsa impressão de que o varejo de alimentos, com destaque para os supermercados, não enfrenta dificuldades. Entretanto, no “chão de loja” a realidade é bem diferente, indica sondagem realizada pelo Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de São Paulo) com 200 empresas de todas as regiões da capital, na primeira semana de agosto de 2020.
No que se refere aos empregos, 74% conseguiram ajustar-se ao fluxo de vendas e mantiveram seu quadro de pessoal estável. Apenas 33% tiveram de afastar funcionários do grupo de risco e, destes que o fizeram, a maioria afastou no máximo 10% da equipe. Do total, 21% utilizaram algum dos benefícios ofertados pelo governo na pandemia, dos quais 44% concederam férias, 36% suspenderam contratos e 20% reduziram jornada. Nenhum entrevistado afirmou ter reduzido salários e 86% avaliaram as medidas de emergência como positivas.
Os novos protocolos de higiene trouxeram mais custos na opinião de 78% dos entrevistados e também exigiram mais treinamento para 41% das empresas, porém para 69% essas medidas são necessárias e geram mais confiança por parte do consumidor. Menos de 4% avaliaram os protocolos como exagerados ou ineficazes.
Segundo o levantamento, 70% dos empresários perceberam aumento de preços por parte dos fornecedores, o que consequentemente foi repassado ao consumidor. Outro desafio indicado por 50% dos gestores foram as rupturas, a falta de produtos nas gôndolas, motivada principalmente pela busca acima do normal de itens de higiene e limpeza e alimentos básicos.
A fim de atender aos novos hábitos, 55% dos entrevistados se valeram de novas ferramentas de venda, ou intensificaram o uso de algumas delas. O que mais prevaleceu ao longo desse período de redução do fluxo de pessoas nas lojas foi a utilização de vendas por aplicativos, uso de delivery e ampliação do atendimento por telefone. Dos que experimentaram novas ferramentas, o delivery será mantido pós-pandemia por 85% dos respondentes.
Dentre as principais mudanças de hábito dos consumidores percebidas pelos supermercadistas desde o início da pandemia estão: menor tempo de permanência na loja (64%); estoque de produtos de higiene e limpeza (49%); estoque de alimentos (39%); e prioridade a itens básicos (37%), o que causa a perda na margem de lucro das empresas, pois significa queda no tíquete médio.
Expectativas − Diante do cenário, 51% dos empresários acreditam que a economia ainda irá piorar. “A pandemia não trouxe um cenário econômico de guerra, mas os efeitos ainda serão sentidos por um bom tempo. Provavelmente, após encerradas as medidas emergenciais, o desemprego irá perdurar. O final de 2020 não repetirá o bom desempenho dos últimos anos e a recuperação das vendas será lenta”, avalia o presidente do Sincovaga, Alvaro Furtado.
Os motivos para o pessimismo dos supermercadistas são principalmente a perda de renda / emprego da população (49%); incerteza em relação ao futuro (7%); recessão econômica (6%); e instabilidade política (4%).
Quando perguntados sobre quais palavras definiam o mundo pré-Covid-19, as mais citadas pelos empresários foram “normal”, “egoísta” e “livre”. Já as mais lembradas para definir o pós-pandemia são “esperança”, “mudança” e “medo”.