Após quatro anos de queda, a indústria automobilística brasileira vai encerrar o ano com crescimento de mais de 9% nas vendas, uma alta acima das projeções feitas pelas montadoras. Segundo analistas, a recuperação do mercado de carros novos começou no segundo semestre, pautada pela melhora da economia – ou seja, sem artificialismos como corte de impostos e crédito facilitado, medidas adotadas no período pré-crise.
Até o dia 26 deste mês foram vendidos 178,9 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo dados do mercado. Se a média de vendas diárias for mantida até esta sexta-feira, 29, dezembro fechará com cerca de 210 mil unidades vendidas. No ano, a soma já está em 2,206 milhões de unidades e deve ficar próxima a 2,240 milhões, ante 2,050 milhões em 2016.
“Essa retomada veio para ficar, pois tem como base a melhora da renda do consumidor, do emprego e do crédito, e não de artificialismos do governo”, diz João Morais, economista da Tendências Consultoria. Ele projeta nova alta de 15% em 2018, movimento que será seguido pelo setor de consumo em geral em diferentes proporções.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) iniciou o ano com previsão de aumento de 4% nas vendas, e refez o cálculo em setembro, para 7,3%. No mês passado, o presidente da entidade, Antonio Megale, admitiu que a alta seria maior.
A melhora do mercado levou a indústria automobilística a abrir 5,1 mil vagas neste ano, depois de ter promovido 30,6 mil demissões a partir de 2014 e ter adotado diversos mecanismos de corte de produção.
Fábricas que chegaram a operar com 70% de ociosidade agora estão fazendo horas extras e contratando, como a Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) e a MAN em Resende (RJ), ambas fabricantes de caminhões e ônibus. “Se a demanda continuar aquecida é possível que a partir de maio será necessário ampliar o trabalho aos sábados ou voltar a operar em dois turnos em algumas áreas”, diz o presidente da Mercedes, Phillip Schiemer. Na semana passada, a empresa anunciou a contratação de 266 funcionários.
Investimentos. A retomada no setor também veio acompanhada de anúncios de novos investimentos, entre os quais o da Mercedes-Benz (R$ 2,4 bilhões), da Toyota (R$ 1,6 bilhão) e da MAN (R$ 1,5 bilhão).
Na opinião de Morais, o setor voltará a registrar vendas na casa dos 3 milhões de veículos a partir de 2020. A indústria ultrapassou esse volume entre 2009 e 2014. Já a produção deve atingir esse volume no próximo ano, puxada também pelas exportações. Ainda assim, o setor continuará a operar com ociosidade – tem capacidade para produzir até 5 milhões de veículos ao ano.
O único risco que Morais vê para o consumo é no cenário político, caso um embate entre candidatos à presidência traga de volta a insegurança entre consumidores.
O setor de autopeças também refez projeções e ampliou de R$ 69 bilhões para R$ 76,9 bilhões a previsão de faturamento este ano. “Para 2018, a expectativa é de um aumento de 7,4%, porque as exportações vão continuar crescendo, assim como o mercado doméstico”, diz Dan Iochpe, presidente do Sindipeças (que representa as empresas do setor).
Sem Rota. A frustração das montadoras e autopeças é iniciar o novo ano sem a política industrial para o setor automotivo, chamada de Rota 2030.
Após vários meses de discussão, o programa substituto do Inovar-Auto – que termina dia 31 – não foi aprovado em razão de impasse entre os ministérios da Indústria e da Fazenda, que é contra subsídios previstos para quem investir em pesquisa e desenvolvimento. A previsão é que o tema só será retomado em fevereiro, após a votação do projeto da reforma da Previdência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.