Uma investigação independente contratada pela Caixa encontrou evidências de que a disputa política por cargos no banco público se alastrou para outras áreas do banco, como diretorias e superintendências. O documento, produzido pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto, alerta que a relação próxima entre os membros da alta administração da Caixa e os grupos políticos que lhes dão “sustentação” representam grave risco à instituição financeira.
Das 12 vice-presidências da Caixa, 11 são ocupadas por indicados de sete partidos. O único membro técnico ocupa a vice-presidência de Administração e Gestão de Ativos de Terceiros, cargo que exige qualificação técnica e certificações específicas para o exercício da função. A auditoria externa diz que a disputa por cargos se espalhava para outras áreas do banco.
Segundo a investigação, a divisão política ocorre tanto no caso de indicação de profissionais externos, como era o caso de Fábio Cleto (ex-vice-presidente investigado por recebimento de propina), de políticos, como o atual ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (hoje preso), ou de funcionários de carreira do banco, como a vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias, Deusdina dos Reis Pereira, que está entre os quatro executivos afastados nesta terça-feira, 16.
Em um dos indícios dessa disputa política, a investigação cita que Deusdina informou ter tido sua indicação defendida pelo PR e “mostrou descontentamento com potenciais ameaças à sua permanência”. O presidente do banco, Gilberto Occhi, ligado ao PP, teria pedido a sua vaga para preencher com outro indicado político.
Já o vice-presidente Corporativo, Antônio Carlos Ferreira, relatou à investigação que parlamentares do PRB (partido responsável por sua indicação) fazem diversos pedidos, inclusive de patrocínios, principalmente depois que o ex-ministro da Indústria Marco Pereira e o deputado Celso Russomano (SP) teriam condicionado sua permanência ao atendimento dessas demandas.
As investigações também detectaram a influência do ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso, nas atividades da Caixa.
Controle. Para tentar barrar a influência política, a investigação faz uma série de recomendações para a adoção de mecanismos de controle, que vão desde a indicação técnica dos vice-presidentes e diretores executivos até o registro mais fiel de visitas de parlamentares a integrantes da cúpula.
Segundo os investigadores contratados pela Caixa, os parlamentares que visitaram os membros da alta administração da Caixa “normalmente entravam pela garagem, sem controle de acesso”. “Recomenda-se que o controle de registro de acesso às dependências da CEF seja registrado, ainda que o visitante entre na CEF pela garagem”, diz o documento.
Outra recomendação é que um funcionário da assessoria parlamentar acompanhe “sempre” as reuniões entre dirigentes da Caixa e parlamentares, ou um técnico quando o encontro for com representantes de empresas, com o objetivo de coibir pressões externas. Segundo a apuração, a influência política propiciou o fornecimento de informações confidenciais a agentes políticos e empresários e a “criação de dificuldades ou agilização artificial” no trâmite de processos de análise de crédito na instituição financeira.
A investigação também menciona a necessidade de proibir o uso de e-mail pessoal para tratar de assuntos internos do banco, não só para evitar práticas ilegais, mas também para preservar a segurança das informações.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Caixa diz que “não concorda com as interpretações que vêm sendo dadas às conclusões do relatório do Escritório Pinheiro Neto, elaborado a pedido da própria Caixa. Tais interpretações vem gerando percepções equivocadas em relação ao banco e alguns dirigentes”.
O ministro Moreira Franco e o ex-ministro Marcos Pereira negaram que tenham influência na Caixa. As defesas do ex-deputado Cunha e do ex-ministro Geddel não responderam aos pedidos de posicionamento da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.