O pedido de demissão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, foi a saída encontrada pelo Palácio do Planalto para tentar salvar o governo da crise política, que se avoluma a cada dia. A operação para entregar a cabeça de Geddel foi articulada ainda na quinta-feira, 24, após a divulgação do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal, no qual ele dizia ter sido “enquadrado” pelo presidente Michel Temer para atender aos interesses do chefe da Secretaria de Governo. A pressão seria para liberar a construção de um prédio nos arredores de uma área tombada, em Salvador.
Articulador político do Planalto com o Congresso, Geddel sai do governo às vésperas da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos, marcada para a próxima terça-feira, dia 29, no plenário do Senado. Temer ainda não escolheu o substituto de Geddel, seu amigo há quase 30 anos, e disse a aliados que ele próprio fará a coordenação política para a votação da PEC do Teto, considerada fundamental pelo governo para o ajuste fiscal e a recuperação da economia.
Em reunião de emergência convocada por Temer com auxiliares, na noite de quinta-feira, a situação de Geddel — que já havia viajado para a Bahia — foi considerada insustentável. Houve, a partir daí, intensa troca de telefonemas com o ministro. “É tudo pior do que parece”, disse um dos auxiliares do presidente.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que Calero gravou conversas com Temer, com Geddel e com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. No depoimento à Polícia Federal, Calero disse que o presidente tentou fazer com que ele “interferisse indevidamente” para que a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), barrando a construção do prédio em Salvador, fosse substituída por um parecer da Advocacia Geral da União (AGU). Geddel comprou na planta um apartamento no edifício “La Vue”, que teve a obra embargada pelo Iphan.
As afirmações de Calero jogaram mais combustível na crise por atingirem diretamente o presidente. Antes desse depoimento — prestado no último dia 19, mas que só veio a público nesta quinta-feira -, o ex-ministro da Cultura havia citado apenas a pressão exercida por Geddel para a liberação do empreendimento.
À Polícia Federal, porém, Calero mencionou uma suposta interferência de Temer — que estaria demonstrando “insistência” –, de Padilha e de outros auxiliares do núcleo do governo para que o caso fosse resolvido. Calero disse ter se sentido “decepcionado” por não ter mais a quem recorrer e pediu demissão, desobedecendo à ordem de enviar o polêmico processo para a AGU.
A queda de Geddel ocorre uma semana após a saída de Calero. O titular da Secretaria de Governo é o sexto ministro a deixar a equipe de Temer.
Na avaliação de interlocutores do presidente, porém, esta foi a demissão que ele mais sentiu, na esteira de uma crise que atinge o seu próprio gabinete e o “núcleo duro” do Planalto. Temer resistiu o quanto pôde a “rifar” Geddel, mas a “solução” encontrada foi uma espécie de boia jogada para conter a turbulência.